terça-feira, 22 de novembro de 2016

QUADRINHA PARA GEDDEL


Versos anônimos encontrados em um banheiro qualquer de Brasília:

QUADRINHA PARA GEDDEL

Ainda que pareçam autênticas
Sempre me pergunto como é
Que lágrimas de crocodilo
Brotam do Boca de Jacaré?

Da mesma série QUADRINHA PARA GEDDEL

Chorava sensível o suíno
Quando alguém o abordou:
"Por que sofres tanto assim?"
"É que meu apê evaporou"

QUADRINHA PARA GEDDEL


Versos anônimos encontrados em um banheiro qualquer de Brasília:

QUADRINHA PARA GEDDEL (no lugar de quadrilha)

Ainda que pareçam autênticas
Sempre me pergunto como é
Que lágrimas de crocodilo
Brotam do Boca de Jacaré?

MAS NÃO ERA SÓ TIRAR DILMA?



Temer e Meirelles levaram o Brasil para um esparro. Venderam durante todo o andamento do processo de impeachment que o Brasil sofria de uma "crise de confiança", e que seu motivo era um só: Dilma Rousseff.

É tirar Dilma e as coisas voltarão a andar.

Temer vendeu, deputados e senadores compraram; Meirelles ofereceu, empresários e grande mídia pagaram para ver.

Deu zebra.

Economia tem muito de psicologia? Tem. Tem um pouco até de meteorologia, ou astrologia. Mas economia é vida real, é consumo, investimento (público e privado), é circulação de bens e mercadorias.

Perspectiva, expectativa, bom humor. Tudo isso se desmancha no ar. O que vale é geração de emprego, renda, compra, venda, lucro. Vale mesmo é dinheiro na conta do trabalhador e do empresário.

A aposta do (ilegítimo) governo Temer já se mostra errada na medida em que os indicadores de confiança podem até ter feito a bolsa de valores subir, mas não promoveram a prometida recuperação econômica nem geraram emprego.

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[Atualização 10h08: Acaba de ser divulgado que o Desemprego cresceu muito em todo o país no 3º trim. Comparado ao 3º trim de 2015 saltou de 10,8% para 14,1% no NE; de 9% para 12,3% no Sudeste.]

segunda-feira, 21 de novembro de 2016

WAGNER NO CODES. OPOSIÇÃO NAS CORDAS.



O Blog do Éden republica abaixo mensagem do ex-governador Jaques Wagner, no quando da sua posse, hoje, à frente do CODES.

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Boa tarde. No dia em que assumo a Coordenação do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social da Bahia (CODES), quero falar da felicidade de chegar e encontrar tantos amigos e amigas de caminhada política. A política, como missão, é a mais nobre das experiências. O diálogo é o revés da briga, da violência. E a democracia é o império da lei e do diálogo.

Quero também agradecer ao governador Rui Costa pelo convite. Dizer que chego aqui para contribuir com o que mais sei fazer, que é dialogar e somar esforços. Eu não sou grau de recurso das decisões de Rui; quem decide é o Governador do Estado. Minha definição de voltar foi para contribuir.

Venho para o CODES que é um espaço de diálogo com a sociedade, trabalhadores, movimentos sociais e a sociedade civil organizada. E de diálogo também com as outras secretarias, com a SEPLAN, do amigo João Leão, e a SERIN, do companheiro Josias Gomes. No CODES não farei papel da secretaria A ou B. Insisto: vim para somar.

Por fim, dizer que acredito que nos últimos dez anos nossa caminhada construiu muito pela Bahia e pelo povo baiano. Vou trabalhar, com muita energia, para que a gente melhore o nosso desempenho enquanto governo e faça cada vez mais pelos baianos.

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Comentário meu: Sem foro privilegiado, sem novas despesas, sem status de secretário. Volta para a Bahia para fazer política. E é isso que assusta e amedronta a turma do lado de lá. Ponto final.

sábado, 19 de novembro de 2016

GEDDEL VOLTA ÀS COMPRAS...



Estamos em fevereiro de 2001. O então presidente do Senado, Antônio Carlos Magalhães, divulgou para a imprensa a fita "Geddel Vai às Compras". No conteúdo da denúncia ACM acusa Geddel Vieira Lima, líder do PMDB na Câmara dos Deputados, de enriquecimento ilícito, juntamente com alguns de seus familiares. Segundo o senador, a família Vieira Lima comprou 12 fazendas na Bahia e seis apartamentos em Brasília sem ter recursos para tais operações.

Não era a primeira vez que Geddel era alvo de denúncias de corrupção. Seu nome já havia figurado no escândalo Anões do Orçamento, no qual políticos manipulavam emendas parlamentes com objetivo de desviar dinheiro. O próprio ACM sapecou um apelido em Geddel por conta da sua suposta atuação: O Agatunado.

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Agora estamos em setembro de 2016. Matéria da revista Época revela que o empresário Lúcio Funaro, preso pela Operação Lava Jato, foi flagrado em mensagens de celular acusando Geddel Vieira Lima, um dos ministros mais influentes do governo Michel Temer, de fazer pressão numa operação de R$ 330 milhões no fundo de investimento do FGTS, o FI-FGTS. Revela ainda mais, como por exemplo, a opinião de Funaro sobre o Agatunado, digo, Geddel: ““Ele é boca de jacaré para receber e carneirinho para trabalhar e ainda reclamão”.

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Agora estamos no dia de hoje, 19 de novembro de 2016. Novamente Geddel volta a protagonizar escândalos. Desta vez, como pivô da demissão do ministro da Cultura, Marcelo Calero. De acordo com a Folha de São Paulo, o ex-ministro deixou a Cultura porque Geddel o pressionou a liberar obra: “Não estou aqui para fazer maracutaia”.

Maracutaia, amigos! É um colega de Esplanada acusando Geddel de fazer maracutaia! Mais explícito, impossível!

Olha o que disse Calero: “Eu fiquei surpreendido, porque me pareceu tão absurdo o ministro me ligar determinando que eu liberasse um empreendimento no qual ele tinha um imóvel. Você fica atônito. Veio à minha cabeça: “Gente, esse cara é louco, pode estar grampeado e vai me envolver em rolo, pelo amor de Deus”.

...

A primeira consequência lógica desse escândalo seria a demissão de Geddel. Mas não vivemos tempos lógicos. Fruto de um golpe parlamentar, o governo ilegítimo de Michel Temer tem na sua equipe um número sem fim de ministros acusados de diversos crimes. Como conta com a conveniência ( alguém disse cumplicidade?) da maioria da grande mídia, tem se especializado em não ligar, responder ou tomar providência frente as estes escândalos. É só lembrar que nessa semana Temer nomeou Romero Jucá como líder no Congresso. Um acinte.

Mas é fato que a crise chega ao quarto andar do Planalto e põe em xeque o governo. A decisão está nas mãos de Temer ou do próprio Geddel. Temer pode estancar a turbulência imediatamente, tirar Geddel, mas ao mesmo tempo admitir que um dos seus principais assessores de confiança atuou para se beneficiar pessoalmente. Geddel pode se afastar para se defender – a Comissão de Ética Pública anunciou que vai abrir processo de investigação sobre atuação de Geddel – mas deixa o governo sem seu articulador político em meio a votações importantes como a PEC 55 no Senado.

É crise do mesmo jeito.

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Geddel falou à jornalista Cristiana Lôbo, da Globonews, e admitiu ter pressionado o ex-ministro Marcelo Calero a liberar uma obra na Bahia, que segundo arquitetos e urbanistas, agride o patrimônio histórico. Segundo Geddel, "em tempos de crise, é preciso estimular investimentos para animar a economia".

O problema é que Geddel tem uma unidade no imóvel e advogar em causa própria representa o crime de advocacia administrativa, o 321 do Código Penal, com pena de três meses a um ano de prisão, além de multa.

Não é pouca coisa, não. Uma imprensa que já fez pressão pela demissão de ministro por conta de uma tapioca, se vê pressionada a colocar panos quentes e fechar os olhos para o “retorno às compras” de Geddel...



Fontes citadas:

http://epoca.globo.com/tempo/noticia/2016/09/geddel-tem-boca-de-jacare-para-receber-diz-funaro.html

http://politica.estadao.com.br/noticias/geral,acm-acusa-geddel-de-enriquecimento-ilicito,20010205p34947

http://painel.blogfolha.uol.com.br/2016/11/19/pedido-de-geddel-para-que-ministro-interferisse-em-obra-sera-alvo-da-comissao-de-etica-da-presidencia/

quinta-feira, 17 de novembro de 2016

QUANDO VALE A PENA DEFENDER A CONSTITUIÇÃO



Ainda sobre as prisões de hoje, vale a pena novamente defender a Constituição e o Estado Democrático de Direito em detrimento do perigosíssimo justiçamento apoiado por setores do MP, do Judiciário e da Mídia.

O juiz deveria aguardar a finalização do julgamento, a condenação, a declaração de pena para, então, levar ao presídio. "Mas a prisão preventiva é um instrumento legal." Sim, é. Mas se não incorrer risco de fuga, obstrução ou crime continuado, sua banalização - ou o que é pior, sua utilização como instrumento de pressão e constrangimento - é absolutamente ilegal.

Não tenho procuração, obrigação, disposição, nem sequer simpatia para defender o PMDB do Rio de Janeiro - que com Cunha, Cabral, Moreira Franco, Picciani, etc, foram protagonistas do golpe de 2016. Longe disso.

Mas a defesa da democracia é um exercício diário e inegociável, que deve se sobrepor, inclusive, às vontades de ver adversários na lona política. Defender os direitos, liberdades e garantias constitucionais é algo que devemos fazer mesmo quando eles beneficiam nossos opositores.

Surfar nessa onda - tal qual fazem PSDB, DEM e a grande mídia - é flertar com o fascismo, é brincar com o fogo do autoritarismo, é se aproximar da barbárie.

Não esperem isso de mim; não espero isso de vocês.

quinta-feira, 10 de novembro de 2016

SOBRE O ÓDIO, MENTIRAS E AS REDES SOCIAIS


Imagino que, assim como eu, você foi bombardeado com milhares de análises sobre a vitória de Donald Trump para a presidência dos EUA, não é? Li de tudo um pouco: do porquê os institutos de pesquisa erraram; de como o trabalhador, branco, industrial de classe média elegeu Trump; da derrota democrata em estados onde o partido vencia há décadas; e de como a campanha republicana colocou Donald no lugar do não-candidato, do anti-político.

Nesse tudo lido e pouco entendido, senti falta de uma abordagem. Afinal, vamos falar da estratégia de campanha abertamente adotada por Trump? De como ele manipulou preconceitos? De como estimulou o ódio e de como as redes sociais formaram um ambiente fértil às estratégias de desconstrução, ataque e mentiras?

Se é verdade que o advento das redes sociais possibilitou uma maior aproximação entre candidatos e eleitores, também é verdade que foram criadas indústrias de calúnias e difamações. Se de um lado trouxe a política para perto das novas gerações com suas múltiplas mídias, formatos e linguagens; por outro, alimentou uma rede de elaboração e reprodução, inescrupulosa, de conteúdos deliberadamente criminosos. Gerou Obama e suas postagens dos bastidores da Casa Branca, mas também gerou Trump e as correntes homofóbicas, racistas, misóginas, discriminatórias.

Donald inventou isso? Não, certamente não. Em 1980 o também republicano Ronald Reagan venceu o democrata Jimmy Carter. Aliás, venceu é pouco. Foi uma surra histórica, tendo Reagan levado a melhor em 44 dos 50 estados. Mas além da enorme diferença (no colégio eleitoral ficou 489 x 49), do fato do eleito ser republicano e também ter um perfil outsider (era ator de profissão), outra coincidência aproxima 1980 de 2016: a campanha do ódio.

Reza a lenda que Reagan autorizou anúncios de sua campanha que acusavam o seu concorrente e então presidente Carter de ser machista e misógino. Como o democrata tinha uma boa relação com os Movimentos pelos Direitos Civis nos EUA, inclusive o movimento feminista, sendo o único candidato a apoiar a Equal Rights Amendment (Emenda de Direitos Iguais), os assessores perguntaram a Reagan se essa mentira pegaria. Respondera ele: "Claro que não. Mas eu estou louco para ver a cara dele desmentindo isso". Assim, Trump não inventou o expediente, mas fez dele sustentação de toda a estratégia política-eleitoral, e não mais apenas uma pegadinha.

O futuro 45o presidente norte-americano apostou na cultura do ódio e do medo; na desinformação gerada pela profusão de canais midiáticos; na ignorância ou desconhecimento de parte da população sobre temas gerais; e na meia-mentira como arma para atacar e desconstruir sua adversária. Apostou e ganhou.

Mas para nós, brasileiros, Hillary não é a primeira candidata vítima de tal estratégia. A Presidenta Dilma Rousseff foi (e ainda é) alvo de intensa e sistemática campanha do tipo. O site Revista Fórum (ver link abaixo) reuniu uma série de boatos e mentiras espalhadas nos últimos três anos sobre Dilma que não deixam dúvidas que a opção da Direita no Brasil foi a mesma nos EUA. Na matéria, o jornalista ainda tenta alertar seu leitor sobre a tática usada: "Não seja bobão, pare de repetir boatos, se informe e repense sobre quem realmente é o ignorante da história."

Ao que parece, o alerta não pegou tanto quanto as acusações... Bom, seguem aqui alguns exemplos de deliberadas mentiras espalhadas nas redes sociais com o único objetivo de destruir a imagem (e o capital político) da Presidenta Dilma. Tenho certeza que você lembrará deles e, o que é pior, lembrará que conhece alguém que acreditou e reproduziu algumas dessas maluquices:

- Alberto Youssef foi assassinado no dia da eleição
- Dilma tinha cometido suicídio
- Dilma congelou a poupança
- Dilma trouxe haitianos para votar nas eleições
- Se Dilma fosse eleita, dólar custaria R$ 6 e o litro da gasolina R$ 8,00.
- A filha de Dilma era dona de mais de 20 empresas; e
- Dilma havia adulterado as urnas eletrônicas

Não sou pesquisador, nem sei se alguma pesquisa conseguirá medir o impacto desse modus operandi no resultado final das eleições em questão. Mas o fato é que muito se falou sobre diversos aspectos da vitória de Trump e pouco se condenou a prática adotada pela sua campanha.

Vencer estimulando a cultura do ódio e do preconceito não representa apenas um rebaixamento do nível político da disputa, como alguns tentam minimizar. Significa atacar frontalmente dignidade da pessoa, os Direitos Humanos e Direitos Civis. É, ao fim e ao cabo, um crime contra a humanidade que cria ambiente e gera como consequência estados de involução na nossa caminhada civilizatória. Não comentar isso é impedir sua pública condenação. Insisto, está na hora de falarmos sobre o ódio, mentiras e as redes sociais.

http://www.revistaforum.com.br

terça-feira, 8 de novembro de 2016

A ESQUERDA BRASILEIRA E AS ELEIÇÕES NOS EUA, por Fernando Pacheco

A esquerda brasileira em geral tem grandes dificuldades ao se posicionar sobre as eleições americanas. As marcas das relações dos EUA com ditaduras e a grande influência política que esse país exerceu e exerce sobre a América Latina contribuem para tornar essa decisão ainda mais complicada. Na disputa de hoje, vejo duas posições surgindo entre os nossos com as quais discordo.

A primeira é o alheamento e a descrença, de dizer que os dois candidatos representam o mesmo tipo de pensamento conservador e que tanto faz, ou mais que isso, que nós no Brasil não devíamos nos ocupar tanto disso.

A segunda, cuja maior expressão talvez esteja nas posições de Zizek, Assange e Greenwald, sustenta que Trump poderia desorganizar o establishment por dentro e precipitar uma crise maior que reduziria o poder dos americanos e de suas corporações no mundo, ou ainda que em comparação com o histórico de Hillary, os EUA teriam um papel de menor intervencionismo e posições menos globalizantes, por assim dizer.

Discordo frontalmente dessas duas posições, pelas cinco razões que apresento aqui:

1. Os EUA ainda são importantes no mundo em múltiplas dimensões da presença dos processos americanos nas dinâmicas nacionais. Isso vale para a economia, o comércio, o poder militar, a cultura e as dinâmicas sociais, em todos esses campos, é possível delimitar áreas de influência e relações de impacto diretas entre o que acontece lá e o que se passa no resto do mundo.

2. A ascensão de Trump não significaria a desorganização do sistema por dentro, mas mais um movimento, brusco, de tomada de poder pelos segmentos proto-fascistas da direita mundial. Essa aposta que o caos levaria a um cenário pré-revolucionário de decadência do capitalismo pelo centro é ingênua e perigosa. Por mais que não tenha o apoio do Comitê Nacional Republicano, Trump apenas colocou US$ 66 milhões de sua fortuna pessoal na campanha que deve ultrapassar US$ 1 bilhão. O resto dos recursos vem de Comitês de Arrecadação inchados de recursos dos grandes financiadores de campanha que o terão em rédea curta, e não me parece que esses financiadores permitirão a construção de um cenário pré-revolucionário. Não que Clinton não tenha os mesmos apoios, mas é certeza que Trump não representa a ruptura sistêmica, a ruptura dele é apresentar uma face agressiva e radicalizada de um conservadorismo que vem sendo alimentada desde a criação do Tea Party.

3. A eleição de Hillary, por outro lado, pode não representar ruptura, mas é sem dúvida um freio eficaz para parte substancial da agenda conservadora, especialmente em relação aos direitos políticos e sociais. De saída significaria que a indicação de um juiz para substituir o conservador e agora defunto Antonin Scalia na Suprema corte estaria condicionada por posições sobre questões que são caras para a esquerda ocidental, como interrupção voluntária da gravidez, direito das mulheres, encarceramento em massa, guerra às drogas, entre outros. Não quer dizer mudança da água pro vinho, mas o cenário mais possível com Clinton é de que pelo menos não haja retrocesso, Trump já se comprometeu a fazer exatamente oposto. Isso é algo que tem direta relação com o Brasil, que vive uma ascensão conservadora, o enfraquecimento da agenda conservadora no centro, deixa a nossa direita em descompasso com os avanços mundiais. Uma reafirmação do direito ao corpo das mulheres nos EUA reforça a sensação geral, e não só da esquerda, de que nosso congresso promove ideias medievais. A legalização do uso recreativo da maconha em expansão nos territórios dos EUA transforma a foto do nosso ministro de justiça destruindo um pé de maconha em uma charge cada vez mais risível (quer dizer, eu tenho a certeza de que daqui a 20 anos essa foto vai parecer ridícula para a maioria dos brasileiros, mas o processo americano pode reduzir esse prazo pra 10 ou 5 anos). Ainda, é possível dizer que a continuidade dos democratas pode ser um freio ao movimento de inchaço do aparato de repressão e segurança pública, e a posição do FBI sobre Clinton na última semana mostra claramente que esta não representa os interesses do pessoal “da lei”.

4. Tenho certeza de que o histórico de Hillary em algumas questões é um dos fatores que leva muitos a não acreditar que ela possa ser uma boa notícia para esquerda. No entanto, é preciso ver em perspectiva o processo das primárias e de que maneira isso impactou o discurso e a agenda dos democratas na eleição. O fato de os jovens millenials serem uma força em ascensão e progressista no seio do partido democrata levou Clinton a assumir parte da agenda desse segmento, recuando em suas posições históricas, e nisso sobram exemplos. No traço que mais nos afeta, o intervencionismo internacional, Hillary praticamente passou a campanha inteira se desculpando pelos erros cometidos na Síria e na Líbia. Na área do comércio, é possível dizer o mesmo, depois de dizer que o Tratado Transpacífico era o “padrão ouro” dos acordos internacionais de comércio, a candidata democrata voltou atrás e já disse textualmente que os Estados Unidos só assinarão se as condições para os trabalhadores americanos forem mais favoráveis (como isso afeta as condições para investidores na Ásia e América Latina, ouso dizer que esse acordo dificilmente verá a luz do dia até 2020, se ele se concretizar). Um último assunto é relacionado a um tema diretamente ligado à esquerda, que é a equidade e justiça tributária. O sucesso de Bernie Sanders nos primeiros momentos das primárias obrigou Hillary a defender mais impostos para os mais ricos. Se ela conseguir implantar isso, François Hollande não estará mais tão sozinho nessa conversa, e isso alimenta o debate mundial sobre o tema, e pode (aqui assumo que exagero na esperança) desinterditar o tema no Brasil.

5. Para o Brasil, especificamente, há uma armadilha de percepção. Hoje o Kennedy Alencar escreveu um texto dizendo que o Governo Temer torce por Hillary. Há uma mistura de coisas aí, de um lado a relação histórica da família Clinton com FHC e por extensão com os tucanos, de outro o interesse do governo em que a orientação do governo americano seja a expansão do comércio internacional e a internacionalização da economia, o que representaria oportunidades de crescimento para o Brasil. Mas a convergência desses dois interesses pode ser apenas conjuntural, pois há contradições subjacentes entre dois segmentos. É público que os tucanos desejam maior proximidade com os americanos, acordos comerciais de ampla abertura, e vendas de ativos. Qual acordo? Absolutamente qualquer acordo, a elaboração dos tucanos é ter essa aliança como um fim, as outras políticas são apenas atalhos. Mas não acho que isso seja válido para todo o governo, principalmente na agenda econômica e social. Um acordo de ampla abertura poderia significar o fim de qualquer política de refresco fiscal para a indústria nacional. Primeiro porque isso é pré-requisito dos acordos comerciais modernos, países liberam cotas e tarifas, mas proíbem “ajudinha” ao empresariado nacional, pra igualar as “condições de competitividade”. Segundo, porque a inclinação e o horizonte de possibilidades de política fiscal do Brasil são inclinados a não abrir mão de receita e limitados pela produção de déficit (como a PEC 55 não fala de receita, só de despesa, qualquer medida de renúncia de receita ampliaria o déficit). Então, se for o caso de nosso governo assinar um tratado comercial liberando tarifas de importação, o Ministério da Fazenda seria forçado a rever subsídios concedidos aqui no Brasil de um jeito ou de outro, mesmo que isso não esteja previsto no acordo. Eles podem até dizer que Papai Noel vai chegar e que os investidores americanos vão inundar o Brasil de dinheiro se houver mais abertura, mas as pernas dessa mentira são curtíssimas. Isto tudo dito, acho que não é correto apostar em Trump só porque o Governo Temer não gosta dele. É uma lógica infantil de que o inimigo do meu inimigo é meu amigo, o que não é válido nesse caso. Nosso governo vai enfrentar sérios problemas internacionais, especialmente porque tem desafios grandes e planos frágeis que dependem substancialmente de uma esperança que não tem amparo na realidade.

Por esses motivos, acredito sim que devemos acompanhar atentamente o que acontece em Washington hoje e nos próximos dias e que com certeza não devemos torcer pelo proto-fascista Donald Trump. Como considero que a indiferença não é uma posição política muito favorável para a esquerda, acredito que um nível de torcida de baixo entusiasmos pelos democratas é sim um posicionamento válido.


Fernando Pacheco, 30, é economista e foi assessor internacional da Secretaria Nacional de Juventude, assessor da Casa Civil do Governo da Bahia e coordenador de relações internacionais da Juventude do PT.


sexta-feira, 4 de novembro de 2016

MST: Polícia invade ENFF sem mandado




Na manhã desta sexta-feira (04), cerca de 10 viaturas da polícia civil e militar invadiram a Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF) em Guararema, São Paulo.

De acordo os relatos, os policiais chegaram por volta das 09h25, pularam o portão da Escola e a janela da recepção e entraram atirando em direção às pessoas que se encontravam na escola. Os estilhaços de balas recolhidos comprovam que nenhuma delas são de borracha e sim letais.

Neste momento, a polícia está em frente à ENFF. Diante da ação de advogados, os policiais recuaram. A invasão na Escola ocorreu sem mandado judicial, o que é ilegal.

O MST repudia a ação da polícia de São Paulo e exige que o governo e as instituições competentes tomem as medidas cabíveis nesse processo. Somos um movimento que luta pela democratização do acesso a terra no país e a ação descabida da polícia fere direitos constitucionais e democráticos.

A operação em SP decorre de ações deflagradas no estado do Paraná e Mato Grosso do Sul. A Polícia Civil executa mandados de prisão contra militantes do MST, reeditando a tese de que movimentos sociais são organizações criminosas, já repudiado por diversas organizações de Direitos Humanos e até mesmo por sentenças do STJ.

quinta-feira, 3 de novembro de 2016

QUESTÃO DE BOM SENSO (leia até o fim)



As acusações contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva têm como característica comum o uso “abusivo e frívolo” do Direito para destruir sua imagem. A prática, conhecida como lawfare, é um dos argumentos usados pela defesa de Lula.

Mas vale a pena se perguntar: há perseguição mesmo? Estão destruindo a imagem de Lula? Existe uma campanha de transformar tudo e qualquer coisa em denúncia contra ele e, assim, desconstruir sua reputação?

Tenho vários amigos que acham que antes de denunciar a perseguição da qual é vítima, Lula deveria responder às acusações que estão circulando na mídia. Segundo essa lógica, em vez de ir à ONU denunciar os abusos que sofre, o ex-presidente deveria, ponto a ponto, rebater as supostas incriminações.

A título de exemplo, vou listar algumas aqui:

  • Lula deveria responder porque o Ministério Público Federal (MPF), por meio da Procuradoria da República na 1ª Região, o denunciou por uso indevido de dinheiro público - crime de peculato, cuja pena varia de dois a 12 anos de prisão em caso de condenação.
  • Lula deveria explicar como, em quatro anos de seu primeiro mandato como chefe do Executivo, seu patrimônio dobrou de tamanho, saltando de 13,3 para 27,8 milhões de reais.
  • Lula deveria esclarecer suas ótimas relações com a Braskem, subsidiária da Odebrecht, e porque a empresa investiu, somente em 2015, R$ 8 milhões em empresas de sua família; e por que a operação foi conduzida por Hilberto Silva, preso pela Lava-Jato.
  • Por falar em Lava-Jato, Lula deveria elucidar por que planilhas apreendidas na residência do ex-presidente de Infraestrutura da Odebrecht Benedicto Junior indicavam repasses financeiros para ele. 

Você também concorda que antes denunciar suposto abuso, Lula deveria responder a essas acusações? Você também acha que se ele não devesse nada essas coisas não aconteceriam? Você acha que onde há fumaça, há fogo?

Tenho más notícias para você.

É tão óbvia a campanha de destruição de Lula, é tão claro o propósito de destruição da sua imagem, é tão forte e ininterrupta essa empreitada, que toda e qualquer denúncia é aceita como verdadeira contra Lula. Acusam-no de tudo e a toda hora, de modo que qualquer insinuação, por mais inverídica que seja, ganha ares de realidade; qualquer suposta revelação, por mais mentirosa que seja, parece verdadeira aos olhos do público.

E a prova disso está aqui: TODAS AS ACUSAÇÕES ACIMA CITADAS SÃO CONTRA ACM NETO, e não Lula. E o fato de você não perceber isso e achar que eram, ou poderiam ser, contra Lula, é prova inequívoca do uso abusivo do Direito para destruir sua imagem.

É uma questão de bom senso. Ou não?

quarta-feira, 2 de novembro de 2016

A QUEM INTERESSA UM PT DE VOLTA ÀS SUAS ORIGENS? Por Luciano Rezende

Sofrendo intenso bombardeio midiático e feroz ataque dos conservadores de todos os matizes – impulsionado à milésima potência com o advento das redes sociais – o Partido dos Trabalhadores (PT) foi para as cordas. E mesmo segurando-se para não cair, esperando o soar do gongo, continua recebendo pancadas de todos os lados, inclusive de sua própria “equipe”.

Um dia após a divulgação dos resultados da última eleição, em que o PT perdeu seis de cada dez votos em relação a 2012, ganhou força uma cobrança desmesurada para que o partido faça uma autocrítica pública sobre sua conduta nos últimos anos, reconhecendo seus desvios e assumindo sua culpa por quase beijar a lona.

Essa cobrança partiu e parte de todos os setores. Desde seus inimigos mais ferinos que se comprazem de alegria em compartilhar desabafos dos chamados “petistas históricos” que abandonaram a sigla, até mesmo de importantes quadros políticos petistas, como Raul Pont e Tarso Genro. Dos primeiros é compreensível tal conduta, mas dos segundos só podemos lamentar.

Não sou petista, mas como todo brasileiro que participa da política e dos movimentos sociais, conheço o básico da história do PT. Mais que isso, sou testemunha ocular da enorme evolução desse partido, sobretudo a partir do final dos anos de 1990.

Aqueles que clamam pelo retorno do PT às suas origens e não viveram aquele período, deveriam estudar um pouco mais sobre como atuava e o que defendiam boa parte dos chamados petistas históricos. Mas para aqueles que, como Raul Pont e Tarso Genro, sofreram na pele o sectarismo de seus antigos e “históricos” colegas de partido, cujo Orçamento Participativo era um fim em si mesmo, não serão os livros que conseguirão demonstrar o equívoco da volta ao passado.

E aqui não me refiro apenas aos mais “notáveis” como Hélio Bicudo (aquele mesmo que foi um dos mais importantes porta-vozes da direita no Golpe de 2016), Cristovam Buarque, Marina Silva, Heloisa Helena, Plínio de Arruda Sampaio, Marta Suplicy, entre tantos outros. Refiro-me a todas aquelas tendências trotskistas ou esquerdistas, das quais saíram da sigla para fundarem o PSTU e o Psol, por exemplo.

“Petistas históricos” que concebiam a organização partidária mais como um tipo de seita religiosa do que propriamente um partido político para intervir em um sistema eleitoral tipicamente burguês.

Tivesse essa turma permanecido na estrutura interna do PT, sequer teríamos elegido Lula presidente e muito menos realizado a imensa obra política de elevar o nível de vida do povo brasileiro em todos os patamares nesses últimos treze anos.

O PT de hoje apanha justamente pelos seus acertos e fundamentalmente por ter compreendido a importância de ser amplo. De entender a centralidade de se abandonar o discurso estreito de quem só falava para dentro e passar a dialogar com amplos setores da sociedade progressista, nacionalista e democrática.

João Amazonas, presidente histórico do PCdoB, era um dos que denunciava o chamado “entrismo” - recomendado nos anos 1930 por Leon Trotsky aos seus seguidores, e que castigava o PT. O entrismo consistia-se nos trotskistas “introduzirem-se sorrateiramente em partidos e organizações de esquerda com o fito de aí realizarem o seu trabalho sectário, divisionista, contra-revolucionário”.

De fato, na sua origem, a despeito dos “setores sadios, sindicalistas sinceros, democratas conseqüentes, trabalhadores combativos” que compunham o PT, esse era infestado por grupos que ostentavam as mais variadas denominações antes e depois de ingressarem nas fileiras petistas: Convergência Socialista, Libelu, Alicerce, Centelha, Travessia, Peleia, entre tantas outras correntes que disputavam internamente para transformar o PT em uma seita dogmática.

Se essas correntes políticas tivessem saído vitoriosas, muito provavelmente o PT teria a mesma quantidade de deputados e vereadores que o PSTU tem hoje, ou seja, nenhum. Para ficar no slogan “Contra burguês, vote 16” é melhor abrir mão de participar do jogo eleitoral burguês. Como se diz por aí: “Não quer brincar, não desce para o play”.

Mas autocrítica não é uma brincadeira. Não pode ser evocada como resposta artificial para os eleitores, tal como um jogo de marketing. Tampouco significa um processo de autoflagelação. Autocrítica pode e deve ser feita para exercer a análise crítica de seus grandes feitos e corrigir a rota visando seus objetivos estratégicos.

Certamente muita coisa deve ser ajustada para se avançar. Mas ao contrário do que reivindica uma carta assinada por Antonio Carlos Granado, Antonio Lassance, Geraldo Accioly, Jefferson Goulart, José Machado e Ronaldo Coutinho Garcia, intitulada “Precisamos falar sobre o PT”, não é prudente defender uma “reinvenção” urgente do partido. Se o PT é hoje muito mais caçado é justamente porque se reinventou há alguns anos, ou seja, sofre implacável perseguição de seus adversários muito mais pelos seus acertos do que pelos seus erros.

Obviamente, muita coisa necessita ser corrigida. Mas sem dar cavalo de pau.

Entre tantas críticas feitas pela carta mencionada acima, muitas delas corretas, falta a principal: o hegemonismo petista. O maior partido de esquerda do país e da América Latina deve ser mais aberto às alianças, sobretudo, com seus aliados históricos, visando uma Frente Ampla de resistência ao neoliberalismo.

E Frente Ampla não é Frente de Esquerda. Frente Ampla, com iniciais maiúsculas, deve aglutinar setores inclusive da direita nacionalista que, em alguns momentos táticos, é atraída pelo programa comum de fortalecimento do Estado Nacional e se opõe a escalada do entreguismo. É forçoso reconhecer que o governo Dilma foi muito estreito e dialogava pouco com as demais forças políticas.

Por fim, é fundamental termos a devida cautela para se evitar que o PT se reinvente em uma espécie de Psol. Aí sim, seria o gran finale do teatro golpista de 2016 com a direita aplaudindo de pé.

Um PT saudável é fundamental para toda esquerda que tal como aprendemos na ecologia tem mais chance de sobrevivência atuando em grupo. Ou como nos mostra as várias relações ecológicas harmônicas, intra ou interespecífico: é hora do comensalismo sair de cena e o mutualismo finalmente prevalecer. Caso contrário, seremos vítimas fáceis da predação ou do parasitismo da elite brasileira.


Luciano Resende é professor na Universidade Federal de Viçosa, campus Florestal, e Diretor de Temas Ecológicos e Ambientais da Fundação Maurício Grabois

terça-feira, 25 de outubro de 2016

O CÚMULO DA SELETIVIDADE

Alguns titulares do consórcio golpista - delegados, procuradores, juízes, congressistas e jornalistas - são seletivos até na adivinhação:

- Adivinham que o Itaquerão foi um presente para Lula (mesmo ignorando os papéis que Alckmin e Kassab tiveram ou mesmo a dívida de 900 milhões que ficou para o Corinthians), mas não conseguem adivinhar quem é o tucano paulista chamado de JS na lista da Odebrecht.

- Adivinham o valor dos pedalinhos ou da canoa do sítio de Atibaia, mas não desvendam quem é o "Santo" ou o que fazia Paulo Preto.

- Eles adivinham palestras que Lula não deu (apesar das provas em vídeo e das entrevistas no local) mas são incapazes de ligar o nome de candidato citado em onze delações ao codinome "Mineiro".

Há justiça quando o pau que dá em Chico, que prende preventivamente Chico, que fala de Chico nos três telejornais, que ataca Chico nas revistas e manchetes dos jornais, que dá coletiva com PowerPoint contra Chico, há justiça quando ele ignora, esconde e defende Francisco?

Já virou piada a possibilidade de ver um tucano preso ou minimamente respondendo aos processos no Brasil...

quinta-feira, 20 de outubro de 2016

SOBRE HADDAD E A PRESIDÊNCIA DO PT (algumas provocações, não mais que isso)

O PT precisa mudar. Aliás, ele vai. E essa mudança já está em curso, já está sendo forjada nos debates, nos diálogos, na elaboração de novos caminhos que companheiros e companheiras Brasil afora percebem, sentem, racionalizam e disputam.

Sim, isso já está em disputa. E nessa disputa me junto àqueles que entendem que o PT deve, urgentemente, atualizar seu programa, sua estratégia e sua prática política.

Não tenho - eu, sozinho, tadinho de mim - resposta para todas as perguntas que hoje recaem sobre o Partido dos Trabalhadores, a Esquerda Brasileira ou sobre o Socialismo Democrático no mundo. Não tenho e não sou pretensioso o suficiente para querer ter. Esse é um processo gigantesco, que demandará energia de várias gerações e sobre o qual só aprenderemos ao ensinar; só chegaremos ao caminhar.

Daí a minha primeira observação sobre a "tese" Haddad Presidente. Em meio ao turbilhão de articulações, plenárias, grupos de discussão, reuniões de tendências organizadas, de correntes internas, de movimentos sociais e intelectuais por todo o país, eis que a tese é lançada por um único quadro, numa coluna de um jornal paulista, solta em meio a outras notinhas. Ora... Posso estar errado, mas as angústias apresentadas até aqui sobre a necessidade de democratização do PT, de revisão dos seus espaços internos, de atualização de sua agenda ao Século XXI, enfim, todos os ventos que sopraram apontaram no sentido inverso. Ou não?

Percebam que o que aqui escrevo é apenas uma provocação, uma modesta contribuição ao debate. Mas enxergo uma forte crítica a setores que supostamente querem fazer do PT "apenas um partido em defesa de uma personalidade", no caso, Lula, e ao mesmo tempo a defesa de um personagem a candidatura de outro, sem um amplo processo coletivo anterior, apenas com uma singela nota de jornal... A meu ver, há uma enorme contradição.

Contudo, apesar de questionar o método, quero deixar minhas impressões - ainda que preliminares - sobre o mérito. Quais sejam:

Haddad é um grande quadro. Foi muito bem no Governo Federal, fez uma boa gestão na Prefeitura, tentou verdadeiramente inovar e enfrentar as principais questões da cidade de SP - sempre à esquerda.

Além disso, ele é uma renovação geracional importante. Os/as camaradas sabem o quanto acredito, defendo e luto por um processo de renovação geracional no PT.

Dito isso, o problema são as derrotas. E alerto que as opiniões que aqui seguirão podem causar polêmica, mas não é esse o objetivo do texto. É tão somente provocar e contribuir para o debate, como disse, ainda que preliminarmente.

A primeira derrota foi ele (Haddad) ter permitido vazar que poderia sair do PT. Foi aceitar a pecha (imagem) de ser bom, "apesar do PT". Isso pode ter efeito na sociedade, junto ao conjunto das esquerdas, mas deixa cicatrizes fortes entre os petistas. Me marcou e deve ter marcado muita gente.

A segunda derrota foi na urna mesmo. Mesmo considerando o revés que o PT sofreu noutros lugares, a derrota em primeiro turno foi sentida. Sobretudo se considerarmos - e é difícil para mim e cada vez mais para muito mais companheiros e companheiras desconsiderar - que estamos falando (novamente) de um quadro petista oriundo de São Paulo.

O PT de São Paulo tomou 7 milhões de votos de frente para Aécio e Rui Falcão seguiu como presidente do PT. Agora Haddah toma de primeiro turno, e se especula sua chegada à presidência do PT.

Não acho que Haddad seja um nome impossível (apesar de ter sido apresentado via notinha de jornal, coisas de Tarso Genro...). Haddad é, sim, uma possibilidade. Uma, mas não a única.

E se em vez de SP for alguém do Norte ou Nordeste? Se ao invés de quem vem acumulando derrota eleitorais fosse alguém que mais ganhou do que perdeu? Se no lugar de quem está acuado, apanhando e falando em diluir o partido numa frente de esquerda, fosse alguém que foi testemunha e tem orgulho das mudanças que o PT produziu no Brasil?

Podemos achar alguém com esse perfil? Um quadro que se dispusesse a construir coletivamente sua candidatura - em diálogo com as correntes mas também com as demais forças vivas do PT; não só o Estado Petista mas com a Sociedade Petista, por assim dizer - e que além disso tudo saiba que a crise é grande e que é preciso mudar o PT de verdade?

Podemos tentar... né?

PRIMEIRAS IMPRESSÕES SOBRE A PRISÃO DE CUNHA

- A meu ver, pela dupla nacionalidade, pela certeza de que Cunha tem dinheiro no exterior, e pelas fortes suspeitas de que ele vinha agindo para atrapalhar as investigações, essa prisão preventiva parece ter mais justificativa do que a regra (ilegal) usada pela Lava-Jato (onde se prende para depois ouvir). Ainda assim, mantenho minha posição sobre as prisões cautelares: são abusivas e inconstitucionais.

- Obviamente a prisão de Eduardo Cunha - se vier acompanhada da prisão da sua esposa, então, nem se fala - eleva a temperatura em Brasília, mais especificamente no seio do governo golpista.

- 300 deputados, 30 senadores, 15 ministros e 1 presidente ilegítimo (que interrompeu agenda no Japão para voltar imediatamente) estão com as barbas de molho ante a possibilidade de delação de Cunha.

- Só para lembrar o que disse Michel Fora Temer em 28 de abril: "As tarefas difíceis eu entrego à fé de Eduardo Cunha."

- Não se assuste se as últimas notícias sobre a Lava-Jato caírem no esquecimento. Só para constar, nos últimos dias as delações apontaram para Geddel Vieira Lima, Moreira Franco, Romero Jucá, José Serra, Marconi Perillo e Aloysio Nunes Ferreira.

- Articulistas, comentaristas e colunistas da grande mídia tentarão - não duvidem - defender que é chegada a hora de dar fim à indústria das delações. Ou seja, defenderão que a Justiça não homologue a provável delação premiada de Cunha.

- E usarão a prisão de Cunha - apesar de todos os demais e principais capas do PSDB e PMDB estarem soltos e longe das investigações - como argumento para dizer que a Lava-Jato não é seletiva. Ato contínuo, cobrarão a prisão imediata de Lula.

- Luciana Genro foi oposição ao Governo Olívio e ao Governo Tarso. Foi oposição ao Governo Lula e não classificou como golpe a cassação de Dilma. Aliás, ela diz que o golpe ocorrido na Ucrânia é algo positivo. Luciana Genro, pelo Facebook, celebrou hoje com um "Viva a Lava-Jato". Luciana Genro está absolutamente coerente com sua trajetória; errado é quem tenta classificar Luciana Genro como de esquerda. #ProntoFalei

PS: é claro que o Brasil inteiro comemora a prisão de Cunha! Quem é contra o golpe comemora pois sabe o tamanho do banditismo do cara e do papel central que ele jogou na inviabilização do Governo (pautas-bomba) e no afastamento em si; quem é a favor do golpe comemora porque sabe que ele sempre foi um bandido-útil e porque dá a eles o falso argumento que "tirando a Dilma vamos tirar todo mundo"...

OS NORMAIS

Tem um tipo de gente na vida que não consigo entender. De verdade, não consigo. Na vida de vocês pode ter também. Mas são pessoas que estudaram em bons colégios; foram criados por pais e famílias inteligentes; tiveram e tem acesso a estudos, informações e conteúdos de qualidade; mas são absolutamente alienados.

Mas são de tal forma alienados que sequer lembram o conceito clássico de alienação (se você é um deles deve estar indo no google agora, né?) apesar de terem assistido aula, estudado para a prova e terem sido aprovados em História, Geografia ou Economia.

Eles não se esforçam para sair do senso comum, evitam polêmicas, absorvem como verdade a opinião publicada - e passam a compor, então, a tal opinião pública.

Conformam o que estão chamando de classe-média-semi-intelectualizada. São capazes de desenvolver cálculos complexos, constroem pontes e prédios, alguns vestem togas, outros jaleco, a maioria tailleur, paletó e gravata. Dirigem empresas, repartições públicas, clínicas e escritórios rentáveis, mas são incapazes de reconhecer um sofisma (vai lá, corre pro google novamente!).

É a turma que sonha em ser elite - mas pensa já viver como tal. Fizeram inglês, compram em outlet de Miami, só vão para camarote, tem carro importado e, apesar de ter uma série de parcelas e financiamentos - agem como se estivessem no topo do mundo do capitalismo mundial.

Não são racistas pois tem muitos amigos negros e, afinal, nem há racismo no Brasil. Homofobia, sexismo, misoginia é tudo invenção da ditadura comunista que queriam implantar no Brasil. Cuba? Bolívia? Equador? Venezuela? São um tipo de Coréia do Norte da vida. Todos amam o Brasil, mas se bem que nordestinos às vezes passam do ponto - pois cearenses só andam com peixeira, paraíbas são desnutridos e burrinhos, e os baianos preguiçosos por natureza...

PT inventou a corrupção. PMDB um mal necessário. Os tucanos são competentes, modernos e formam a elite de homens públicos a quem se deve entregar a gestão. Veja o exemplo de Minas e São Paulo! O choque de gestão!

Essa gente, comum, muito presente em nossas vidas, desconhece os reais conceitos de democracia, constitucionalidade, justiça. A eles basta o sentimento de justiçamento. Dão-se por satisfeitos.

Eles aguardam, em contagem regressiva, a suposta prisão de Lula. Já bateram panela, tomaram as ruas de verde-amarelo, sabe-se lá o que virá agora. Mas certamente será festivo, comemorativo, um dia feliz.

Essa gente não me é estranha, nem deve ser a vocês. Foram amigos da infância, estudaram com seu irmão, trabalham na mesma firma, moram no seu bairro. Estão por aí, tocando a vida, criando seus filhos, quem sabe até estudando violão...

Elas aplaudiram a chegada da Corte Portuguesa, seguiram o Integralismo (google de novo, hein?), chamaram Prestes de comedor de criança, foram às ruas em abril de 1964 celebrar "a vitória do Brasil". São os mesmos. Sempre.

E provavelmente quando o julgamento da História chegar - ele sempre chega - eles vão negar de que lado estavam. Por puro esquecimento mesmo (quem se importa com política?) ou por vergonha, vão romantizar seu próprio passado e contar aos seus que estavam conscientes, do quanto foram críticos e do esforço que fizeram para alertar os demais sobre o perigo de tal aventura.

E assim seguimos a marcha...

sábado, 15 de outubro de 2016

HORÁRIO DE INVERNO DURARÁ 20 ANOS


Amanhã começa o Horário de Verão. Não é somente adiantar o relógio em uma hora. É antecipar a vida. Acordar uma hora antes, perder a referência do nascer do sol, é bagunçar pousos e decolagens dos vôos e para quem mora em estados não atingidos pelo novo fuso, é perder a novela, o futebol, o programa de TV favorito - e ainda ver o tempo bancário reduzido em uma hora.

Mas a gente meio que estava acostumado, né?

A gente também estava acostumado a votar para Presidente, a escolher qual programa político seria implementado no país, a gente estava acostumado - apesar de todas as dificuldades - a ver os orçamentos da Educação, da Saúde e Assistência Social crescendo ano a ano...

Daí veio Temer, veio o governo sem voto, veio o projeto sem respaldo da urna e a famigerada PEC 241. Contraditoriamente, amanhã o Brasil entra no Horário de Verão e com a PEC 241 podemos entrar num inverno de duas décadas.

"The winter is coming", dirão os fãs de Game of Thrones...

Para quem acha que pode haver certo exagero neste prognóstico, sugiro a leitura da Nota 28 do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), assinada no mês passado pelos pesquisadores Fabíola Sulpino Vieira e Rodrigo Pucci de Sá. Segundo o estudo, a Saúde perderá R$ 73.000.000.000,00 em recursos. É muito zero, né? Mas é isso mesmo: 73 bilhões de reais em investimentos em Saúde.

O governo sem voto, e por isso ilegítimo, vende em parceria com a grande mídia a ideia de que estão cortando na carne. E realmente estão. Cortam na carne dos brasileiros e brasileiras que dependem do serviço público para ter acesso a direitos fundamentais.

A proposta da PEC 241 prevê o congelamento dos gastos federais em Educação, Saúde e Assistência, dentre outros, por duas décadas. Para a gente ter uma ideia do que isso significa na prática, nos últimos quinze anos, o incremento real  nestas áreas nos permitiu investir mais de R$ 100 bilhões - quantia ainda insuficiente para suprir as necessidades da população e muito aquém de elevar nosso país à condição de Estado de Bem-estar Social, como prevê nossa Constituição.

Em outras palavras, há 15 anos a gente investe 100 bi nestas áreas e ainda tínhamos muito para avançar. Com a PEC 241, não haverá mais esse investimento (ficará restrito à correção inflacionária) e temos a certeza que as políticas públicas sofrerão retrocesso na qualidade e quantidade. 

Perderemos uma hora de banco, e também a possibilidade de novas universidades federais; perderemos uma hora de sono, e também novas unidades de saúde; perderemos o vôo, e infelizmente perdemos o caminho de construção de um país mais justo, com oportunidades e direitos para todos e todas.

quarta-feira, 5 de outubro de 2016

RESOLUÇÃO DA CEN/PT PÓS-ELEIÇÕES 2016 (EU GOSTEI)

Nota oficial: Comissão Executiva do PT divulga resolução política: A Comissão Executiva Nacional do Partido dos Trabalhadores, reunida em Brasília no dia 05 de outubro de 2016, aprovou a seguinte resolução política:

1. A ofensiva desferida contra o PT pela mídia monopolizada e os aparatos da classe dominante, desde a Ação Penal 470 até as vésperas da eleição municipal, culminou com uma derrota profunda do campo democrático-popular, principalmente do nosso partido. E resultou num avanço conservador em todo o País.

2. É fundamental reconhecer, porém, ao iniciar nosso balanço – necessariamente detalhado, criterioso, sereno – que o duro revés estampado nos números deveu-se, também, a outros fatores, avultando entre eles nossos erros, cometidos antes e durante o processo eleitoral. Analisá-los e extrair lições para recuperar o terreno perdido é uma tarefa autocrítica, a começar pela direção partidária – que não se exime de suas responsabilidades – e abrir-se para o conjunto da militância.

3. Antes disso, vale ressaltar que o cenário negativo em que se realizaram as eleições municipais é produto, em grande medida, do movimento político iniciado após o pleito de 2014 quando os derrotados passaram a sabotar o governo e a empenhar-se na sua deposição.

4. O aprofundamento da crise econômica a partir de 2015, a criminalização do PT e a ação corrosiva da mídia monopolizada erodiram a base eleitoral progressista, provocando forte recuo da influência petista sobre administrações locais e legislativos municipais.

5. Apesar da resistência ao golpe institucional, especialmente antes da votação da admissibilidade do impeachment pela Câmara dos Deputados no dia 17 de abril, o PT e a esquerda não conseguiram reconquistar o apoio, a confiança e a identidade da classe trabalhadora, dos pobres e dos setores médios, inconformados com o ajuste fiscal implementado pelo nosso governo.

6. As medidas então adotadas serviram de pretexto para que a classe dominante e os partidos conservadores impusessem a narrativa do estelionato eleitoral.

7. Mesmo afastado do governo desde maio, continuam a ser atribuídas ao PT, de forma direta ou indireta, as enormes dificuldades da economia, agravadas pelo programa ultraliberal, antinacional e antipopular aplicado pelo governo golpista. Basta ver a campanha veiculada agora pelo governo usurpador, com um slogan de duplo sentido e que deixa evidente, ademais, a intenção de liquidar o PT. Não tivemos sucesso, durante o primeiro turno, em construir uma contra-narrativa capaz de desmascarar o programa defendido pelas forças golpistas e associá-lo a seus projetos privatistas para as cidades.

8. Não conseguimos tampouco apresentar listas mais amplas de candidaturas a prefeito e vereador, o que já prenunciava uma redução numérica que, afinal, superou as expectativas mais pessimistas, sobretudo nas grandes cidades e em municípios que já governamos.

9. A “ reforma política” comandada pelo ex-deputado Eduardo Cunha, reduzindo o tempo de campanha e os programas tanto no rádio quanto na televisão, acabou por limitar nossas possibilidades de enfrentamento contra os partidos de direita.

10. Da mesma maneira, ao permitir autodoações sem teto para os candidatos e ao não fixar um limite nominal para as contribuições individuais, abriram-se brechas para a influência do poder econômico, dando mais razão à nossa defesa do financiamento público exclusivo das campanhas.

11. Também teve importante impacto, particularmente nos grandes centros urbanos, a escalada antipetista da Operação Lava Jato, que nos trinta dias anteriores às eleições desencadeou ofensivas fraudulentas, mas de ampla repercussão, contra o presidente Lula e ex-ministros de seu governo.

12. Em que pese a vitória sobre o campo democrático-popular, o bloco conservador sai do primeiro turno com divergências que podem se acentuar. Não é o caso de enumerá-las agora, mas é importante tirar proveito delas na campanha do segundo turno, sobretudo nas cidades onde candidaturas progressistas enfrentarão esquemas conservadores e da direita.

13. A Direção Nacional do PT orienta nossa militância a apoiar incondicionalmente as candidaturas do PSOL, do PCdoB, da Rede e do PDT nas capitais, bem como daqueles com quem já estivemos no primeiro turno. Além disso, sugere aos diretórios municipais que avaliem localmente a quem devemos negar apoio e voto.

14. Conclamamos a militância a cerrar fileiras em torno das sete candidaturas petistas neste segundo turno: Recife, Juiz de Fora, Santo André, Mauá, Vitória da Conquista, Santa Maria e Anápolis. É decisivo envidar esforços para unir o eleitorado democrático e popular, abrindo nossas campanhas para todos e todas que desejarem compartilhar dessa empreitada.

15. A CEN parabeniza todos os governadores e prefeitos, parlamentares e militantes, que travaram o bom combate nas condições mais adversas dos últimos anos. Cumprimenta todos os candidatos e candidatas, eleitos ou não, por aceitarem, com bravura, uma tarefa fundamental na defesa de nosso partido e do legado de nossos governos.

16. Sem minimizar o resultado desfavorável, encaramos a perda como uma batalha no processo de resistência democrática e de reorganização do PT e do campo popular. Da derrota, extrairemos lições que possibilitem reorientar nossa prática, a fim de recuperar a confiança política dos trabalhadores, da juventude, das mulheres, dos intelectuais, acumulando forças para retomar o projeto de transformação social que constitui nossa razão de ser.

17. É preciso, nesse momento, conjugar a mobilização na campanha eleitoral com o empenho de nossas bancadas na Câmara e no Senado de se mobilizarem com as bancadas de oposição para derrotarem a PEC 241, a PEC do arrocho, o PL do Pré-Sal e a MP da reforma do ensino médio.

18. Ao lado do povo brasileiro, dos demais partidos progressistas e dos movimentos sociais, os petistas continuaremos, nas urnas e nas ruas, a lutar contra o governo usurpador e a retirada de direitos, em favor de eleições diretas já e pela reforma do sistema político.

Ousar lutar, ousar vencer!

Brasília, 5 de outubro de 2016

Comissão Executiva Nacional do PT

segunda-feira, 3 de outubro de 2016

AINDA SOBRE AS ELEIÇÕES - E O DEPOIS...




Primeiramente, Fora Temer!

E é necessário sempre iniciar com essa palavra de ordem pois ela cumprimenta todos os guerreiros e guerreiras que foram às ruas e urnas, como eleitores ou candidatos, lutar contra o golpe e pela democracia. Assim fizeram por convicção política e compromisso com os ideais e valores democráticos, mesmo em um ambiente desfavorável, hostil, de perseguição e criminalização que tem como foco central o PT, mas também o conjunto da esquerda e as conquistas sociais acumuladas no período recente.

Desta forma, abraço os companheiros e companheiras do PT que venceram as disputas em 37 cidades baianas, os vereadores e vereadoras eleitas, e também aqueles que não se elegeram mas travaram a batalha de cabeça erguida.

Cumprimento também os aliados do campo de sustentação do Governador Rui Costa que igualmente defenderam o projeto de mudanças na Bahia. Graças ao seu compromisso a Base Aliada saiu vencedora na maioria dos municípios baianos. Entre as 48 cidades com população acima de cinquenta mil habitantes, por exemplo, nosso grupo venceu em 30 e seguimos na disputa do segundo turno em Vitória da Conquista.

A campanha de destruição do PT não alcançou seu objetivo completo, mas é preciso reconhecer que se consolidou. É possível ver isso na queda dos números de gestores eleitos pelo partido; no avanço do PSDB, DEM et caterva; mas sobretudo na elevação do sentimento de descontentamento com a política expressado nas abstenções, votos brancos e nulos.

Se o desencanto - soma das abstenções, brancos e nulos - se fosse candidato estaria no segundo turno em São Paulo, Salvador, Recife, Porto Alegre, Curitiba e Fortaleza; e venceria já no primeiro turno em Belo Horizonte e no Rio de Janeiro. Os resultados das urnas provam aquilo que imaginávamos: o desencanto com a política é um movimento político perigoso, que traz de volta ao debate público a agenda da intolerância e fortalece a direita conservadora.

Não é lamentação de derrotado, fuga do necessário processo de auto-crítica, nem desculpa. É constatação.

Assim como é constatação a consolidação do golpe - que não ficou restrito ao plano simbólico ou figurado. Ele se fez valer de maneira concreta na sociedade (inclusive nas camadas populares). Seria absurdo imaginar que a campanha de desconstrução do nosso projeto - implementada incessantemente toda hora, todo dia, durante anos - não seria traduzida em perdas eleitorais significativas. O resultado eleitoral é, senão no seu todo mas em grande parte, produto do que se acumula no período anterior. E esse período, para nós, é de saldo negativo. Seja pela ofensiva articulada pela grande mídia, pelos partidos conservadores e setores do judiciário; seja pela nossa própria responsabilidade e erros acumulados.

Fica cada vez mais urgente a necessidade de renovação do nosso projeto político, dos nossos quadros e ideias. Uma renovação que signifique um sincero diálogo entre gerações, com atualização da nossa agenda para produzir respostas, no campo da esquerda, a desafios contemporâneos como o desemprego, o retrocesso disfarçado de Reforma Trabalhista, o congelamento dos investimentos em Saúde e Educação, ou as questões ecológicas. Uma renovação que consiga verdadeiramente combinar as lutas pelos Direitos Humanos, Direitos Civis, as questões das novas Identidades Sociais com a luta contra as injustiças perpetuadas pelo sistema capitalista. Uma renovação não apenas teórica, mas também prática, de método, que se concretize em compromisso real com os valores democráticos e socialistas.

É urgente atualizar nossa comunicação com a classe trabalhadora e com a sociedade como um todo. Não somente a linguagem, a estética ou os meios dessa comunicação. É preciso também renovar nossa capacidade política de representar, ser referência e liderar.

Em um país cujas as estruturas políticas são elitistas e reproduzem sua tradição oligárquica, escravagista e opressora, o nosso desafio é manter viva a possibilidade de representatividade efetiva dos negros, das mulheres, dos jovens, da cidadania LGBT, dos mais pobres, da classe trabalhadora.

Maiorias eleitorais são conjunturais. Erramos em não traduzir as maiorias eleitorais de outrora em acúmulo para a disputa da hegemonia cultural. Mas não acredito - e minha vida dedicada à luta do povo baiano é testemunha disso - em Fim da História. Para mim, essa eleição é o início de uma nova e longa jornada.

segunda-feira, 19 de setembro de 2016

ESPETACULARIZAÇÃO DA DENÚNCIA

O Blog do Éden reproduz parte de matéria dos Jornalistas Livres, assinada por Vinícius Segalla, sobre as aberrações da denúncia do Ministério Público Federal contra Lula. Para a Rede JL, "não há qualquer valor jurídico na apresentação dos procuradores" por não compor as investigações ou o processo judicial. "Trata-se apenas de ação de comunicação pode servir como prova de dano moral, material, calúnia e difamação", concluem.

Veja a integra da matéria aqui: https://jornalistaslivres.org/2016/09/as-aberracoes-da-denuncia-do-ministerio-publico-federal-contra-lula/ 

Abaixo o trecho que trata de como a estratégia do PowerPoint foi usada (e rejeitada) nos EUA:

ESPETACULARIZAÇÃO DA DENÚNCIA

São inovadores os atentados ao Direito Processual Penal perpetrados pelo MPF nesta denúncia a Lula e em outras da chamada Operação Lava Jato. Mas há experiências anteriores mundo afora.

Veja a imagem abaixo.



Ela foi utilizada por promotores de Washington, nos EUA, para condenar o acusado que aparece no centro do power point.

A promotoria obteve prisão perpétua do réu em primeira instância, mas a decisão foi revertida em corte superior, em virtude de toda a espetacularização por que passou o processo penal graças a ação dos promotores. O power point acima foi destacado na decisão da segunda instância, que criticou o promotor. Afirma a decisão judicial superior norte-americana:

“No purpose could be served by presenting this slide other than to inflame the prejudice and passions. It substantially undermined McKague’s right to a fair trial.”

Em bom português:

“Nenhum motivo pode existir para a apresentação deste slide a não ser inflamar preconceitos e paixões. Ele reduz substancialmente o direito do réu a ter um julgamento justo”.

O juiz de primeira instância Sérgio Moro deverá decidir em futuro próximo se a denúncia dos MPF do Paraná segue os ditames da lei e se tem substância. Que a Justiça não feche os olhos ao Direito.

sexta-feira, 16 de setembro de 2016

2016 É O ENTERRO DO PT. 2018 A MISSA DE SÉTIMO DIA. SERÁ?

Reza a lenda que eleição e mineração, só depois da apuração. Mas quem resiste a dar palpite, a arriscar um pitaco, a fazer uma previsão sobre o resultado das urnas? Eu não resisto. Os articulistas da grande mídia muito menos. E virou ponto pacífico apontar que as eleições municipais de 2016 significarão o sepultamento do Partido dos Trabalhadores; e que 2018, quando serão eleitos governadores e presidente, será a missa de sétimo dia. Não só no cenário nacional, mas também na Bahia.

Mas será assim mesmo?

Bom, este pobre curioso que vos escreve tem mania de buscar na análise dos números, no estudo dos dados estatísticos e na observação do quadro político os elementos para formar opinião e eles, amigos, não são tão catastróficos assim. Senão, vejamos.

Doze entre dez comentaristas políticos usam como principal argumento para a “Tese do Enterro” a percepção de que o PT recuará no total de prefeitos eleitos no estado neste ano. Logo, com menos prefeitos, menos votos para presidente e governador. Pode ter lógica – não farei apologia a derrota nas eleições municipais, longe disso – mas o fato é que os números mostram outra coisa.

Em 2010, o PT tinha 66 prefeitos e prefeitas na Bahia e Jaques Wagner obteve 4,1 milhões de votos para governador; em 2014, os petistas passaram a ter 93 gestores municipais (27 a mais) e Rui Costa obteve 3,5 milhões de votos (600 mil a menos). Com o DEM de Paulo Souto – me perdoem a estranha expressão – ocorreu o mesmo só que ao contrário: em 2010 tinha 43 prefeituras e obteve 1 milhão de votos; quando caiu para apenas 9 prefeituras em 2014, mais do que duplicou seus votos ao Palácio de Ondina (2,4 milhões).

Como disse, os dados, os números, os resultados não validam a tese inicial dos analistas da mídia. Mas, mesmo assim, vamos tentar outra abordagem e pensar sob a lógica da vitória nas eleições municipais.

Por querer ou não, o que foge da visão daqueles que preveem o fim do PT é que nem sempre o número total de prefeituras administradas tem relação direta com número de habitantes que governará. Em bom português: um partido pode ganhar em muitas cidades, mas governar uma quantidade menor de eleitores do que outro.

Aconteceu na Bahia em 2012. O PSD venceu em 70 municípios; o PP em 52. Mas os progressistas passaram a administrar mais cidadãos (1,7 mi) e com uma receita anual (R$ 2,2 bi) maiores do que o PSD. Assim, nem sempre quem vence mais, governa mais. E é o que deve acontecer na Bahia.

Me arriscando no jogo perigoso das midiáticas previsões, avalio que, sim, o PT reduzirá seu número de gestores municipais, mas sem perder influência política ou potencial eleitoral para 2018. E isso derivará, sobretudo, de dois elementos: a capacidade do Governador Rui Costa em manter unificado o campo político de sua base aliada – com o auxílio luxuoso de Wagner, Otto, Leão, Lídice e Marcelo Nilo; e depois porque mais de 50% do eleitorado baiano está concentrado em 35, 40 cidades – e nelas o desempenho desse campo político dá sinais de vitalidade e manutenção de sua força.

Lauro de Freitas, Juazeiro, Porto Seguro, Senhor do Bonfim, Eunápolis, Irecê, Campo Formoso, Valença, Coité, Cruz, Teixeira, Conquista, nesse grupo que podemos chamar de G35 ou G40, a base do PT e seus aliados vai bem, obrigado. Quem duvida e aposta contra, vai novamente cair do cavalo. O jeito de fazer política com respeito aos diferentes, participação e parceria com os aliados, a maneira aberta e democrática de conduzir o estado ao crescimento econômico e desenvolvimento social vieram para ficar. E não é articulista de jornal ou analista de pesquisa que diz isso, não. É o povo baiano que dirá como vem dizendo em 2006, 2008, 2010, 2012, 2014...






quinta-feira, 15 de setembro de 2016

LULA SERÁ UM PRESO POLÍTICO. E DISSO TEMOS PROVAS, NÃO APENAS CONVICÇÕES.



Lula já foi condenado.

Foi condenado quando Moro autorizou aquela absurda condução coercitiva; foi condenado quando o mesmo Moro vazou ilegalmente grampo de uma ligação de Lula com a Presidenta Dilma; foi condenado, várias e repetidas vezes, por edições criminosas do Jornal Nacional; e foi condenado, mais uma vez injustamente condenado, com a midiática coletiva de imprensa do MPF.

Lula voltará a ser um preso político.

O ato-falho de Dallagnol e companhia - “não temos provas cabais, mas temos convicção” – é uma confissão de que Lula, após cumprir prisão política na Ditadura Militar, voltará a essa condição no Brasil pós-Golpe, o Brasil da Lava-Jato e de Michel Temer.

Os termos usados pelos promotores anteontem – coisas do tipo “comandante máximo”, “propinocracia” ou “não dá para Lula dizer que não sabia” – passaram do ponto e obrigaram articulistas, colunistas e golpistas em geral a sair correndo a desmentir ou relativizar as declarações dos procuradores. Mas, insisto, tanto os deslizes dos promotores que se meteram a fazer política, como a tentativa de correção do fato pelas oligarquias de comunicação que fazem política desde sempre, são apenas mais fortes indícios de que Lula já foi condenado e será novamente um preso político.

Disso temos provas, e não apenas convicção.

Daí porque me alio àqueles que defendem que Lula deve mostrar ao país e ao mundo que a denúncia de ontem, bem como a campanha de difamação de sua imagem, tem caráter persecutório, parcial e ilegal.

Está claro que é um golpe contra a democracia brasileira que passou pela queda de Dilma, busca a criminalização ou mesmo a extinção do Partido dos Trabalhadores e a inviabilização da candidatura de Lula em 2018 através da prisão.

Isso deve ser dito nas salas de aulas, nas portas de fábrica, nas praças, ruas e redes, mas também deve ecoar nos corredores da OEA e nos gabinetes da ONU.

Se cassar Dilma através de um impeachment sem crime de responsabilidade foi golpe, o que dizer de prender Lula sem provas, apenas por convicção?


domingo, 11 de setembro de 2016

FORA TEMER JÁ É MAIOR QUE O FORA DILMA



O ilegítimo governo Temer parece não se preocupar muito com a opinião pública. Nem se importa com as manifestações de rua, nem com os protestos nas redes sociais.

No último Sete de Setembro as manifestações contra Temer ocorreram em 25 estados e o golpista foi recebido com vaias em Brasília e no Maracanã. Ante estes atos, soberba e tentativa de desqualificação. Temer disse não passar de 40 vândalos; Padilha, de 18 em 18 mil; e Serra classificou como mini-mini-mini...

No mundo digital, por assim dizer, o Governo Temerário age de maneira parecida e tenta minizar ou ignorar o fato de que a resistência e a reprovação ao presidente usurpador crescem e muito!

De acordo com levantamento inédito da consultoria Bites, desde que Temer tomou posse como interino, em maio, o #foratemer foi utilizado 1,7 milhão de vezes. Para ter uma base comparativa, a hashtag #foradilma foi utilizada 158.230 vezes pelos internautas.

Bom, a agenda proposta ou em implementação pela turma do golpe parece que vai piorar ainda mais a popularidade de Michel nas ruas e nas redes. Reforma da Previdência, Jornada de Trabalho de 12 horas, redução do SUS e programas sociais só tendem a aumentar o #ForaTemer.

sexta-feira, 9 de setembro de 2016

ESPINHA ERETA E CORAÇÃO TRANQUILO



Hoje toda a equipe da Presidenta Eleita Dilma Rousseff, fomos oficialmente desligados. Encerra-se um ciclo de luta, de resistência e também de muito aprendizado. Viver a injustiça contra Dilma, o golpe contra o projeto popular e o ataque a nossa democracia deixa profundas marcas que devem influenciar não só a minha trajetória, mas de toda a nossa geração.

Aos colegas de trabalho - da Casa Civil, do Gabinete, do Planalto e do Alvorada - deixo um forte abraço e a certeza que travamos o bom combate. Aos companheiras e companheiras do PT, PCdoB e movimentos sociais, deixo o registro de que me dediquei o quanto pude nesta batalha. Perdi, mas saio de cabeça erguida. À Presidenta Dilma, dizer que foi uma honra. Ao ministro Wagner, agradecer pela oportunidade e pela amizade.

Aos amigos e amigas, quero dizer que estamos bem e que por enquanto não decidimos nada sobre futuro. Vamos curtir a maternidade/paternidade, aproveitar essa linda fase e brincar de ser feliz! A chegada de Bento é tudo que importa neste momento. Em Brasília ou Salvador, em breve estaremos novamente nas trincheiras ao lado da classe trabalhadora, do movimento democrático, do campo popular. A luta continua e continuará - apenas deu uma pausa para amamentar, ninar, trocar, dar banho... Rsrs...

VIVENDO E APRENDENDO

Hoje aprendemos com governo de Michel Fora Temer que:

- Militares do Exército estão se infiltrando no movimentos de rua;
- O ministro da AGU perdeu seu cargo pois se recusou a ajudar o governo a acabar com a Lava-Jato; e
- O novo Brasil, pacificado e de unidade nacional, em vez de reduzir a jornada de trabalho e gerar mais empregos, quer aumentar a carga horária (pode chegar a 12h no dia) e aumentar o desemprego.

Bem, não foi por falta de aviso, né?

#TáPuxado

quinta-feira, 8 de setembro de 2016

A LEGITIMIDADE QUE VEM DA RUA, por Felipe Freitas

Na democracia a legitimidade do poder é o resultado das disputas públicas. São os conflitos vividos intensamente no espaço público; são as próprias contradições entre os atores políticos que permitem que um governo democrático seja também um governo legítimo.

Na democracia a legitimidade é sempre conflitiva, instável e polifônica. 

Dilma perdeu a popularidade e perdeu a maioria parlamentar. Mas, segue intocável do ponto de vista moral; não perdeu a legitimidade. Foi vítima de um golpe e não cometeu crime de responsabilidade; é digna, séria, proba e honesta.

Por outro lado, Temer é o golpe.

Não reúne nenhuma base ética e nenhuma legitimidade social. Formou uma maioria parlamentar de ocasião liderada pelo derrotado Aecio Neves e pelo contumaz Eduardo Cunha; rompeu com a ordem constitucional; não tem o amparo popular; não representa um projeto referendado nas urnas e não possui o suporte de um partido ou coalizão com unidade nacional.

Os dois últimos dias nos deram imagens que são sínteses destas duas realidades opostas.

De um lado, Dilma deixou o palácio nos braços do povo, foi saudada como presidente legítima na entrada da aeronave presidencial, saiu de cabeça erguida, manteve o sorriso e a calma de quem sabia que se amparava na legitimidade do poder exercido democraticamente.

A falta de popularidade ou de maioria parlamentar retiraram de Dilma a força no Legislativo para barrar as investidas institucionais ou para aprovar medidas que julgava importantes, contudo, nada disso afeta a legitimidade desta mulher. Até os golpistas sabem que, diante de Dilma estão diante do poder legítimo, e, também por isso, não ousam insultá-la. Foi isso que vimos no plenário do senado federal em seu depoimento memorável

Diante de Dilma escondem-se os covardes; emocionam-se os democratas; reverenciam os legalistas (como fez o oficial militar que prestou-lhe continência na base aérea). Ela preserva a liturgia do cargo.

Temer é o oposto! Foi vaiado nas paraolimpíadas; foi interrompido pelos próprios ministros na primeira reunião oficial; não teve coragem de desfilar em carro aberto no 07 de setembro. Diante do golpista: os pusilânimes conspiram e preparam o golpe dentro do golpe; os covardes se apequenam e assumem as tarefas menores e os dignos reagem e gritam: CANALHAS, GOLPISTAS, CANALHAS!

Porque quando o poder é força e quando a violência é o método só podemos ter o arbítrio como resultado. Para aqueles que acreditam na liberdade fica a resistência como caminho.


Felipe Freitas, 29, doutorando em direito, estado e constituição pela Universidade de Brasília. Foi assessor da secretaria de igualdade racial do governo Dilma.



quarta-feira, 7 de setembro de 2016

LAVA-JATO CHEGA A GEDDEL. DE NOVO.



Matéria de Filipe Coutinho da revista Época afirma que Relatório da PF mostra pressão de Geddel dentro do fundo de investimento da Caixa. "Boca de jacaré para receber, cordeirinho para trabalhar e ainda reclamão."

Adivinha quem colocou Geddel na Caixa de onde ele é acusado de desvios? E adivinha quem também colocou Geddel no ministério e lhe deu foro privilegiado?

Não bastasse a pressão das vaias no Sete de Setembro e no Maracanã; e não fosse suficiente a pressão das ruas no FORA TEMER que cresce a cada dia; Michel ainda tem que lidar com a Lava-Jato que toda envolvido seu próprio nome e dos seus ministros mais próximos...

Eis a matéria:

Acusado de ser o operador financeiro do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), o empresário Lúcio Funaro, preso pela Operação Lava Jato, foi flagrado em mensagens de celular acusando Geddel Vieira Lima, um dos ministros mais influentes do governo Michel Temer, de fazer pressão numa operação de R$ 330 milhões no fundo de investimento do FGTS, o FI-FGTS.

Segundo a Polícia Federal, Geddel tinha “preocupação exacerbada” sobre um aporte do banco para o grupo J.Malucelli, no valor de R$ 30,6 milhões, o primeiro de um total de R$ 330 milhões.

Esse é o primeiro indício da atuação de Geddel dentro do FI-FGTS, uma das novas frentes da Lava Jato que faz uma devassa nos aportes multibilionários bancados pela Caixa Econômica. Geddel foi vice-presidente do banco entre 2011 e 2013 e já admitiu publicamente que se encontrava com Funaro, mas disse que eram encontros de cortesia. Funaro, por sua vez, é acusado de ser o operador financeiro dos desvios de dinheiro do FI-FGTS, feudo controlado pelo PMDB (incluindo aí, Cunha) e que envolve megaempresas, como Odebrecht e a Eldorado Celulose, empresa do grupo que controla marcas como JBS e Friboi. Para a PGR, havia pressão política para liberar investimentos para empresas do esquema, em troca de propina.

As mensagens, obtidas por ÉPOCA, constam de perícia realizada pela Polícia Federal no celular de Fábio Cleto, ex-vice-presidente da Caixa e agora delator na Lava Jato. As conversas são de 2012, período que Cleto admitiu à Lava Jato operar dentro do FI-FGTS, a mando de Funaro e Cunha – em troca, ele disse que recebia propina. Geddel e a J.Malucelli não foram citados na delação de Cleto.
Nas mensagens, Cleto e Funaro usavam códigos, de acordo com o Relatório de Análise de Material Apreendido 049/2016. Funaro era “lucky” (sortudo). Cleto era GGeko, uma referência ao ganancioso investidor do filme Wall Street (1987), Gordon Gekko.

“Ele é boca de jacaré para receber e carneirinho para trabalhar e ainda reclamão”, escreveu Funaro numa mensagem de texto a Cleto. Conhecido pelo temperamento explosivo e verborrágico, Funaro diz ainda que tinha “condição total se ele me encher o saco de ir para porrada com ele”. Cleto relata pressão de Geddel:

A conversa entre Cleto e Funaro gira em torno de operação financeira da Caixa em favor da empresa J.Malucelli Energia. Trata-se de um investimento do FI-FGTS no valor de R$ 330 milhões. O primeiro depósito aconteceu em 2012, no valor de R$ 30,6 milhões.

“Ele está louco atrás dessa operação da Malucelli. Já me cobrou umas 30 vezes”, diz Cleto. Funaro, por sua vez, sugere dificultar o negócio. “Segura essa m... Ele quer f... tudo que não participa. É um porco.” No relatório, a PF não esclarece o contexto da conversa sobre as cobranças.

Geddel, além de ser vice-presidente da Caixa indicado por Michel Temer, era também membro do Conselho de Administração da J.Malucelli Energia – o FI-FGTS era sócio no negócio. “Em princípio, trata-se de uma transação típica de negócio da Caixa, porém, analisando-se os diálogos, verifica-se que Geddel demonstrava uma preocupação exacerbada a esse aporte à J.Malucelli, segundo palavras de Fábio Cleto”, diz a PF no relatório.

Para os investigadores, essas mensagens devem basear novas investigações. “Chamou a atenção ainda a comunicação de aporte financeiro de R$ 30,6 milhões que Fábio Cleto recebera da diretora executiva de Fundos da Caixa, sra. Deusdina Pereira, operação de grande interesse, segundo Cleto, do vice-presidente da Caixa, sr. Geddel Vieira Lima, atual ministro-chefe da Secretaria de Governo da Presidência da República do Governo provisório Michel Temer. Os indícios suscitados neste relatório, oportunamente, poderão subsidiar investigações pontuais sobre os fatos apontados.”







EUA DÃO APOIO AO GOLPE. ONDE ESTÁ A NOVIDADE?



Os Estados Unidos da América, através do seu vice-presidente Joe Biden, deram nesta quarta-feira apoio ao Golpe ao afirmar que o Brasil pode continuar a contar com Washington, que aprova o processo de destituição da Presidenta Dilma Rousseff.

Mas qual é a novidade mesmo?

Deixando de lado o histórico de intervenções americanas na América Latina durante os últimos cem anos (se é que é possível), os EUA tiveram uma postura muito pragmática nos últimos meses em relação ao Brasil e, depois da confirmação da destituição de Dilma, o Departamento de Estado concluiu que esta tinha ocorrido “dentro do marco constitucional”.

Biden, que admitiu o impeachment no Brasil como uma das “maiores mudanças políticas” sofridas na região nos últimos tempos, parece estar feliz com a possibilidade de abrir um novo capítulo com um aliado-chave na AL, especialmente depois da morna relação que o Governo Obama teve com Dilma, que foi marcada pela desconfiança gerada pela revelação de que os EUA haviam espionado o telefone da presidente em 2013. Aliás, espionaram o Governo Brasileiro, a Petrobrás e nossas principais empresas, diga-se de passagem.

Por conta desta revelação a Presidenta Dilma Rousseff cancelou uma Visita de Estado que os EUA tinham preparado para o fim daquele ano e só voltou a colocar os pés na Casa Branca quase dois anos depois.

Mas, enfim, o que tem de novo na posição dos EUA?

Os EUA sempre fizeram aberta oposição aos Governos Progressistas ou de Esquerda na América Latina. O ocorrido na Nicarágua, Paraguai e sobretudo na Venezuela já deixavam evidente qual posicionamento o Tio Sam teria por aqui.

Como também não é novidade a hipocrisia norte-americana. Sobre o Brasil, falam em “respeito à Constituição para navegar um momento político e econômico difícil”; já quando se refere à Venezuela, pede a abreviação do mandato de Nicolás Maduro e a realização de referendo antes do fim do ano.

Ou seja, o que vale para um, não vale para outro, e vice-versa.


(Com informações do El Pais Brasil)


TEMER PASSA RECIBO

Presidenta Dilma desfila em carro aberto no Sete de Setembro de 2015

Temer, em suas próprias palavras, era um vice decorativo. No golpe, foi consagrado vice-chefe (nas palavras de Dilma, Eduardo Cunha é o chefe). Agora no Planalto, mais especificamente hoje durante o Sete de Setembro, se assumiu diminuto - palavras minhas.

Não há na literatura política brasileira registro de Presidente que tenha se recusado a usar a Faixa e o Carro Aberto no desfile cívico do Sete de Setembro desde que a tradição foi consagrada. E Temer, homem vaidoso e fortemente apega a liturgias, não abriu mão por ser discrição ou humildade. Pelo visto, a conjuntura política e social deu no ilegítimo um banho frio de realidade.

Michel, ainda na China, fez pouco caso das manifestações Fora Temer o que causou duplo efeito negativo: passou a imagem de soberba e ajudou as mobilizações populares. As declarações do ilegítimo, aliadas a ação da PM de Alckmin, fizeram e farão as manifestações Fora Temer crescer ainda mais.

Pelos recados vazados pela imprensa - vai gostar de vazamento assim lá longe - Michel e sua turma já havia deixado claro que entenderam o recado do PSDB sobre a Reforma da Previdência. Agora, ao se intimidar e abrir mão do Rolls-Royce Silver Wraith, Michel passa o recibo de que as manifestações de rua pelo Fora Temer tem incomodado e que a pecha de Golpista - que dia-a-dia se consolida dentro e fora do país - ainda mais. 



terça-feira, 6 de setembro de 2016

SINAL DOS TEMPOS

O Brasil não é mesmo para amadores.

Não basta ter impeachment sem crime.
Não é suficiente cassar um mandato legitimamente eleito com a desculpa das tais pedaladas e, dois dias depois, legalizar as pedaladas.
Não satisfaz tirar uma mulher honesta sob a desculpa do combate a corrupção e entregar o poder justamente àqueles que são suspeitos (ou comprovadamente) corruptos.

Não, não.

O país tem que assistir o Japonês da Federal, de tornozeleira, conduzir investigados à prisão.

Passa a régua, professor.


E RESISTIR. RESISTIR SEMPRE.



Não esperem de mim o obsequioso silêncio dos covardes. No passado, com as armas, e hoje, com a retórica jurídica, pretendem novamente atentar contra a democracia e contra o Estado do Direito.

Se alguns rasgam o seu passado e negociam as benesses do presente, que respondam perante a sua consciência e perante a história pelos atos que praticam. A mim cabe lamentar pelo que foram e pelo que se tornaram.

E resistir. Resistir sempre. Resistir para acordar as consciências ainda adormecidas para que, juntos, finquemos o pé no terreno que está do lado certo da história, mesmo que o chão trema e ameace de novo nos engolir.

O Blog do Éden publica, ainda que dias depois, o link para aíntegra do histórico discurso da Presidenta Dilma Rousseff ao Senado Federal: http://agenciabrasil.ebc.com.br/politica/noticia/2016-08/confira-integra-do-discurso-de-dilma-em-julgamento-do-impeachment-no-senado