segunda-feira, 3 de outubro de 2016

AINDA SOBRE AS ELEIÇÕES - E O DEPOIS...




Primeiramente, Fora Temer!

E é necessário sempre iniciar com essa palavra de ordem pois ela cumprimenta todos os guerreiros e guerreiras que foram às ruas e urnas, como eleitores ou candidatos, lutar contra o golpe e pela democracia. Assim fizeram por convicção política e compromisso com os ideais e valores democráticos, mesmo em um ambiente desfavorável, hostil, de perseguição e criminalização que tem como foco central o PT, mas também o conjunto da esquerda e as conquistas sociais acumuladas no período recente.

Desta forma, abraço os companheiros e companheiras do PT que venceram as disputas em 37 cidades baianas, os vereadores e vereadoras eleitas, e também aqueles que não se elegeram mas travaram a batalha de cabeça erguida.

Cumprimento também os aliados do campo de sustentação do Governador Rui Costa que igualmente defenderam o projeto de mudanças na Bahia. Graças ao seu compromisso a Base Aliada saiu vencedora na maioria dos municípios baianos. Entre as 48 cidades com população acima de cinquenta mil habitantes, por exemplo, nosso grupo venceu em 30 e seguimos na disputa do segundo turno em Vitória da Conquista.

A campanha de destruição do PT não alcançou seu objetivo completo, mas é preciso reconhecer que se consolidou. É possível ver isso na queda dos números de gestores eleitos pelo partido; no avanço do PSDB, DEM et caterva; mas sobretudo na elevação do sentimento de descontentamento com a política expressado nas abstenções, votos brancos e nulos.

Se o desencanto - soma das abstenções, brancos e nulos - se fosse candidato estaria no segundo turno em São Paulo, Salvador, Recife, Porto Alegre, Curitiba e Fortaleza; e venceria já no primeiro turno em Belo Horizonte e no Rio de Janeiro. Os resultados das urnas provam aquilo que imaginávamos: o desencanto com a política é um movimento político perigoso, que traz de volta ao debate público a agenda da intolerância e fortalece a direita conservadora.

Não é lamentação de derrotado, fuga do necessário processo de auto-crítica, nem desculpa. É constatação.

Assim como é constatação a consolidação do golpe - que não ficou restrito ao plano simbólico ou figurado. Ele se fez valer de maneira concreta na sociedade (inclusive nas camadas populares). Seria absurdo imaginar que a campanha de desconstrução do nosso projeto - implementada incessantemente toda hora, todo dia, durante anos - não seria traduzida em perdas eleitorais significativas. O resultado eleitoral é, senão no seu todo mas em grande parte, produto do que se acumula no período anterior. E esse período, para nós, é de saldo negativo. Seja pela ofensiva articulada pela grande mídia, pelos partidos conservadores e setores do judiciário; seja pela nossa própria responsabilidade e erros acumulados.

Fica cada vez mais urgente a necessidade de renovação do nosso projeto político, dos nossos quadros e ideias. Uma renovação que signifique um sincero diálogo entre gerações, com atualização da nossa agenda para produzir respostas, no campo da esquerda, a desafios contemporâneos como o desemprego, o retrocesso disfarçado de Reforma Trabalhista, o congelamento dos investimentos em Saúde e Educação, ou as questões ecológicas. Uma renovação que consiga verdadeiramente combinar as lutas pelos Direitos Humanos, Direitos Civis, as questões das novas Identidades Sociais com a luta contra as injustiças perpetuadas pelo sistema capitalista. Uma renovação não apenas teórica, mas também prática, de método, que se concretize em compromisso real com os valores democráticos e socialistas.

É urgente atualizar nossa comunicação com a classe trabalhadora e com a sociedade como um todo. Não somente a linguagem, a estética ou os meios dessa comunicação. É preciso também renovar nossa capacidade política de representar, ser referência e liderar.

Em um país cujas as estruturas políticas são elitistas e reproduzem sua tradição oligárquica, escravagista e opressora, o nosso desafio é manter viva a possibilidade de representatividade efetiva dos negros, das mulheres, dos jovens, da cidadania LGBT, dos mais pobres, da classe trabalhadora.

Maiorias eleitorais são conjunturais. Erramos em não traduzir as maiorias eleitorais de outrora em acúmulo para a disputa da hegemonia cultural. Mas não acredito - e minha vida dedicada à luta do povo baiano é testemunha disso - em Fim da História. Para mim, essa eleição é o início de uma nova e longa jornada.

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