quinta-feira, 20 de outubro de 2016

SOBRE HADDAD E A PRESIDÊNCIA DO PT (algumas provocações, não mais que isso)

O PT precisa mudar. Aliás, ele vai. E essa mudança já está em curso, já está sendo forjada nos debates, nos diálogos, na elaboração de novos caminhos que companheiros e companheiras Brasil afora percebem, sentem, racionalizam e disputam.

Sim, isso já está em disputa. E nessa disputa me junto àqueles que entendem que o PT deve, urgentemente, atualizar seu programa, sua estratégia e sua prática política.

Não tenho - eu, sozinho, tadinho de mim - resposta para todas as perguntas que hoje recaem sobre o Partido dos Trabalhadores, a Esquerda Brasileira ou sobre o Socialismo Democrático no mundo. Não tenho e não sou pretensioso o suficiente para querer ter. Esse é um processo gigantesco, que demandará energia de várias gerações e sobre o qual só aprenderemos ao ensinar; só chegaremos ao caminhar.

Daí a minha primeira observação sobre a "tese" Haddad Presidente. Em meio ao turbilhão de articulações, plenárias, grupos de discussão, reuniões de tendências organizadas, de correntes internas, de movimentos sociais e intelectuais por todo o país, eis que a tese é lançada por um único quadro, numa coluna de um jornal paulista, solta em meio a outras notinhas. Ora... Posso estar errado, mas as angústias apresentadas até aqui sobre a necessidade de democratização do PT, de revisão dos seus espaços internos, de atualização de sua agenda ao Século XXI, enfim, todos os ventos que sopraram apontaram no sentido inverso. Ou não?

Percebam que o que aqui escrevo é apenas uma provocação, uma modesta contribuição ao debate. Mas enxergo uma forte crítica a setores que supostamente querem fazer do PT "apenas um partido em defesa de uma personalidade", no caso, Lula, e ao mesmo tempo a defesa de um personagem a candidatura de outro, sem um amplo processo coletivo anterior, apenas com uma singela nota de jornal... A meu ver, há uma enorme contradição.

Contudo, apesar de questionar o método, quero deixar minhas impressões - ainda que preliminares - sobre o mérito. Quais sejam:

Haddad é um grande quadro. Foi muito bem no Governo Federal, fez uma boa gestão na Prefeitura, tentou verdadeiramente inovar e enfrentar as principais questões da cidade de SP - sempre à esquerda.

Além disso, ele é uma renovação geracional importante. Os/as camaradas sabem o quanto acredito, defendo e luto por um processo de renovação geracional no PT.

Dito isso, o problema são as derrotas. E alerto que as opiniões que aqui seguirão podem causar polêmica, mas não é esse o objetivo do texto. É tão somente provocar e contribuir para o debate, como disse, ainda que preliminarmente.

A primeira derrota foi ele (Haddad) ter permitido vazar que poderia sair do PT. Foi aceitar a pecha (imagem) de ser bom, "apesar do PT". Isso pode ter efeito na sociedade, junto ao conjunto das esquerdas, mas deixa cicatrizes fortes entre os petistas. Me marcou e deve ter marcado muita gente.

A segunda derrota foi na urna mesmo. Mesmo considerando o revés que o PT sofreu noutros lugares, a derrota em primeiro turno foi sentida. Sobretudo se considerarmos - e é difícil para mim e cada vez mais para muito mais companheiros e companheiras desconsiderar - que estamos falando (novamente) de um quadro petista oriundo de São Paulo.

O PT de São Paulo tomou 7 milhões de votos de frente para Aécio e Rui Falcão seguiu como presidente do PT. Agora Haddah toma de primeiro turno, e se especula sua chegada à presidência do PT.

Não acho que Haddad seja um nome impossível (apesar de ter sido apresentado via notinha de jornal, coisas de Tarso Genro...). Haddad é, sim, uma possibilidade. Uma, mas não a única.

E se em vez de SP for alguém do Norte ou Nordeste? Se ao invés de quem vem acumulando derrota eleitorais fosse alguém que mais ganhou do que perdeu? Se no lugar de quem está acuado, apanhando e falando em diluir o partido numa frente de esquerda, fosse alguém que foi testemunha e tem orgulho das mudanças que o PT produziu no Brasil?

Podemos achar alguém com esse perfil? Um quadro que se dispusesse a construir coletivamente sua candidatura - em diálogo com as correntes mas também com as demais forças vivas do PT; não só o Estado Petista mas com a Sociedade Petista, por assim dizer - e que além disso tudo saiba que a crise é grande e que é preciso mudar o PT de verdade?

Podemos tentar... né?

Nenhum comentário:

Postar um comentário