terça-feira, 22 de novembro de 2016

QUADRINHA PARA GEDDEL


Versos anônimos encontrados em um banheiro qualquer de Brasília:

QUADRINHA PARA GEDDEL

Ainda que pareçam autênticas
Sempre me pergunto como é
Que lágrimas de crocodilo
Brotam do Boca de Jacaré?

Da mesma série QUADRINHA PARA GEDDEL

Chorava sensível o suíno
Quando alguém o abordou:
"Por que sofres tanto assim?"
"É que meu apê evaporou"

QUADRINHA PARA GEDDEL


Versos anônimos encontrados em um banheiro qualquer de Brasília:

QUADRINHA PARA GEDDEL (no lugar de quadrilha)

Ainda que pareçam autênticas
Sempre me pergunto como é
Que lágrimas de crocodilo
Brotam do Boca de Jacaré?

MAS NÃO ERA SÓ TIRAR DILMA?



Temer e Meirelles levaram o Brasil para um esparro. Venderam durante todo o andamento do processo de impeachment que o Brasil sofria de uma "crise de confiança", e que seu motivo era um só: Dilma Rousseff.

É tirar Dilma e as coisas voltarão a andar.

Temer vendeu, deputados e senadores compraram; Meirelles ofereceu, empresários e grande mídia pagaram para ver.

Deu zebra.

Economia tem muito de psicologia? Tem. Tem um pouco até de meteorologia, ou astrologia. Mas economia é vida real, é consumo, investimento (público e privado), é circulação de bens e mercadorias.

Perspectiva, expectativa, bom humor. Tudo isso se desmancha no ar. O que vale é geração de emprego, renda, compra, venda, lucro. Vale mesmo é dinheiro na conta do trabalhador e do empresário.

A aposta do (ilegítimo) governo Temer já se mostra errada na medida em que os indicadores de confiança podem até ter feito a bolsa de valores subir, mas não promoveram a prometida recuperação econômica nem geraram emprego.

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[Atualização 10h08: Acaba de ser divulgado que o Desemprego cresceu muito em todo o país no 3º trim. Comparado ao 3º trim de 2015 saltou de 10,8% para 14,1% no NE; de 9% para 12,3% no Sudeste.]

segunda-feira, 21 de novembro de 2016

WAGNER NO CODES. OPOSIÇÃO NAS CORDAS.



O Blog do Éden republica abaixo mensagem do ex-governador Jaques Wagner, no quando da sua posse, hoje, à frente do CODES.

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Boa tarde. No dia em que assumo a Coordenação do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social da Bahia (CODES), quero falar da felicidade de chegar e encontrar tantos amigos e amigas de caminhada política. A política, como missão, é a mais nobre das experiências. O diálogo é o revés da briga, da violência. E a democracia é o império da lei e do diálogo.

Quero também agradecer ao governador Rui Costa pelo convite. Dizer que chego aqui para contribuir com o que mais sei fazer, que é dialogar e somar esforços. Eu não sou grau de recurso das decisões de Rui; quem decide é o Governador do Estado. Minha definição de voltar foi para contribuir.

Venho para o CODES que é um espaço de diálogo com a sociedade, trabalhadores, movimentos sociais e a sociedade civil organizada. E de diálogo também com as outras secretarias, com a SEPLAN, do amigo João Leão, e a SERIN, do companheiro Josias Gomes. No CODES não farei papel da secretaria A ou B. Insisto: vim para somar.

Por fim, dizer que acredito que nos últimos dez anos nossa caminhada construiu muito pela Bahia e pelo povo baiano. Vou trabalhar, com muita energia, para que a gente melhore o nosso desempenho enquanto governo e faça cada vez mais pelos baianos.

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Comentário meu: Sem foro privilegiado, sem novas despesas, sem status de secretário. Volta para a Bahia para fazer política. E é isso que assusta e amedronta a turma do lado de lá. Ponto final.

sábado, 19 de novembro de 2016

GEDDEL VOLTA ÀS COMPRAS...



Estamos em fevereiro de 2001. O então presidente do Senado, Antônio Carlos Magalhães, divulgou para a imprensa a fita "Geddel Vai às Compras". No conteúdo da denúncia ACM acusa Geddel Vieira Lima, líder do PMDB na Câmara dos Deputados, de enriquecimento ilícito, juntamente com alguns de seus familiares. Segundo o senador, a família Vieira Lima comprou 12 fazendas na Bahia e seis apartamentos em Brasília sem ter recursos para tais operações.

Não era a primeira vez que Geddel era alvo de denúncias de corrupção. Seu nome já havia figurado no escândalo Anões do Orçamento, no qual políticos manipulavam emendas parlamentes com objetivo de desviar dinheiro. O próprio ACM sapecou um apelido em Geddel por conta da sua suposta atuação: O Agatunado.

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Agora estamos em setembro de 2016. Matéria da revista Época revela que o empresário Lúcio Funaro, preso pela Operação Lava Jato, foi flagrado em mensagens de celular acusando Geddel Vieira Lima, um dos ministros mais influentes do governo Michel Temer, de fazer pressão numa operação de R$ 330 milhões no fundo de investimento do FGTS, o FI-FGTS. Revela ainda mais, como por exemplo, a opinião de Funaro sobre o Agatunado, digo, Geddel: ““Ele é boca de jacaré para receber e carneirinho para trabalhar e ainda reclamão”.

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Agora estamos no dia de hoje, 19 de novembro de 2016. Novamente Geddel volta a protagonizar escândalos. Desta vez, como pivô da demissão do ministro da Cultura, Marcelo Calero. De acordo com a Folha de São Paulo, o ex-ministro deixou a Cultura porque Geddel o pressionou a liberar obra: “Não estou aqui para fazer maracutaia”.

Maracutaia, amigos! É um colega de Esplanada acusando Geddel de fazer maracutaia! Mais explícito, impossível!

Olha o que disse Calero: “Eu fiquei surpreendido, porque me pareceu tão absurdo o ministro me ligar determinando que eu liberasse um empreendimento no qual ele tinha um imóvel. Você fica atônito. Veio à minha cabeça: “Gente, esse cara é louco, pode estar grampeado e vai me envolver em rolo, pelo amor de Deus”.

...

A primeira consequência lógica desse escândalo seria a demissão de Geddel. Mas não vivemos tempos lógicos. Fruto de um golpe parlamentar, o governo ilegítimo de Michel Temer tem na sua equipe um número sem fim de ministros acusados de diversos crimes. Como conta com a conveniência ( alguém disse cumplicidade?) da maioria da grande mídia, tem se especializado em não ligar, responder ou tomar providência frente as estes escândalos. É só lembrar que nessa semana Temer nomeou Romero Jucá como líder no Congresso. Um acinte.

Mas é fato que a crise chega ao quarto andar do Planalto e põe em xeque o governo. A decisão está nas mãos de Temer ou do próprio Geddel. Temer pode estancar a turbulência imediatamente, tirar Geddel, mas ao mesmo tempo admitir que um dos seus principais assessores de confiança atuou para se beneficiar pessoalmente. Geddel pode se afastar para se defender – a Comissão de Ética Pública anunciou que vai abrir processo de investigação sobre atuação de Geddel – mas deixa o governo sem seu articulador político em meio a votações importantes como a PEC 55 no Senado.

É crise do mesmo jeito.

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Geddel falou à jornalista Cristiana Lôbo, da Globonews, e admitiu ter pressionado o ex-ministro Marcelo Calero a liberar uma obra na Bahia, que segundo arquitetos e urbanistas, agride o patrimônio histórico. Segundo Geddel, "em tempos de crise, é preciso estimular investimentos para animar a economia".

O problema é que Geddel tem uma unidade no imóvel e advogar em causa própria representa o crime de advocacia administrativa, o 321 do Código Penal, com pena de três meses a um ano de prisão, além de multa.

Não é pouca coisa, não. Uma imprensa que já fez pressão pela demissão de ministro por conta de uma tapioca, se vê pressionada a colocar panos quentes e fechar os olhos para o “retorno às compras” de Geddel...



Fontes citadas:

http://epoca.globo.com/tempo/noticia/2016/09/geddel-tem-boca-de-jacare-para-receber-diz-funaro.html

http://politica.estadao.com.br/noticias/geral,acm-acusa-geddel-de-enriquecimento-ilicito,20010205p34947

http://painel.blogfolha.uol.com.br/2016/11/19/pedido-de-geddel-para-que-ministro-interferisse-em-obra-sera-alvo-da-comissao-de-etica-da-presidencia/

quinta-feira, 17 de novembro de 2016

QUANDO VALE A PENA DEFENDER A CONSTITUIÇÃO



Ainda sobre as prisões de hoje, vale a pena novamente defender a Constituição e o Estado Democrático de Direito em detrimento do perigosíssimo justiçamento apoiado por setores do MP, do Judiciário e da Mídia.

O juiz deveria aguardar a finalização do julgamento, a condenação, a declaração de pena para, então, levar ao presídio. "Mas a prisão preventiva é um instrumento legal." Sim, é. Mas se não incorrer risco de fuga, obstrução ou crime continuado, sua banalização - ou o que é pior, sua utilização como instrumento de pressão e constrangimento - é absolutamente ilegal.

Não tenho procuração, obrigação, disposição, nem sequer simpatia para defender o PMDB do Rio de Janeiro - que com Cunha, Cabral, Moreira Franco, Picciani, etc, foram protagonistas do golpe de 2016. Longe disso.

Mas a defesa da democracia é um exercício diário e inegociável, que deve se sobrepor, inclusive, às vontades de ver adversários na lona política. Defender os direitos, liberdades e garantias constitucionais é algo que devemos fazer mesmo quando eles beneficiam nossos opositores.

Surfar nessa onda - tal qual fazem PSDB, DEM e a grande mídia - é flertar com o fascismo, é brincar com o fogo do autoritarismo, é se aproximar da barbárie.

Não esperem isso de mim; não espero isso de vocês.

quinta-feira, 10 de novembro de 2016

SOBRE O ÓDIO, MENTIRAS E AS REDES SOCIAIS


Imagino que, assim como eu, você foi bombardeado com milhares de análises sobre a vitória de Donald Trump para a presidência dos EUA, não é? Li de tudo um pouco: do porquê os institutos de pesquisa erraram; de como o trabalhador, branco, industrial de classe média elegeu Trump; da derrota democrata em estados onde o partido vencia há décadas; e de como a campanha republicana colocou Donald no lugar do não-candidato, do anti-político.

Nesse tudo lido e pouco entendido, senti falta de uma abordagem. Afinal, vamos falar da estratégia de campanha abertamente adotada por Trump? De como ele manipulou preconceitos? De como estimulou o ódio e de como as redes sociais formaram um ambiente fértil às estratégias de desconstrução, ataque e mentiras?

Se é verdade que o advento das redes sociais possibilitou uma maior aproximação entre candidatos e eleitores, também é verdade que foram criadas indústrias de calúnias e difamações. Se de um lado trouxe a política para perto das novas gerações com suas múltiplas mídias, formatos e linguagens; por outro, alimentou uma rede de elaboração e reprodução, inescrupulosa, de conteúdos deliberadamente criminosos. Gerou Obama e suas postagens dos bastidores da Casa Branca, mas também gerou Trump e as correntes homofóbicas, racistas, misóginas, discriminatórias.

Donald inventou isso? Não, certamente não. Em 1980 o também republicano Ronald Reagan venceu o democrata Jimmy Carter. Aliás, venceu é pouco. Foi uma surra histórica, tendo Reagan levado a melhor em 44 dos 50 estados. Mas além da enorme diferença (no colégio eleitoral ficou 489 x 49), do fato do eleito ser republicano e também ter um perfil outsider (era ator de profissão), outra coincidência aproxima 1980 de 2016: a campanha do ódio.

Reza a lenda que Reagan autorizou anúncios de sua campanha que acusavam o seu concorrente e então presidente Carter de ser machista e misógino. Como o democrata tinha uma boa relação com os Movimentos pelos Direitos Civis nos EUA, inclusive o movimento feminista, sendo o único candidato a apoiar a Equal Rights Amendment (Emenda de Direitos Iguais), os assessores perguntaram a Reagan se essa mentira pegaria. Respondera ele: "Claro que não. Mas eu estou louco para ver a cara dele desmentindo isso". Assim, Trump não inventou o expediente, mas fez dele sustentação de toda a estratégia política-eleitoral, e não mais apenas uma pegadinha.

O futuro 45o presidente norte-americano apostou na cultura do ódio e do medo; na desinformação gerada pela profusão de canais midiáticos; na ignorância ou desconhecimento de parte da população sobre temas gerais; e na meia-mentira como arma para atacar e desconstruir sua adversária. Apostou e ganhou.

Mas para nós, brasileiros, Hillary não é a primeira candidata vítima de tal estratégia. A Presidenta Dilma Rousseff foi (e ainda é) alvo de intensa e sistemática campanha do tipo. O site Revista Fórum (ver link abaixo) reuniu uma série de boatos e mentiras espalhadas nos últimos três anos sobre Dilma que não deixam dúvidas que a opção da Direita no Brasil foi a mesma nos EUA. Na matéria, o jornalista ainda tenta alertar seu leitor sobre a tática usada: "Não seja bobão, pare de repetir boatos, se informe e repense sobre quem realmente é o ignorante da história."

Ao que parece, o alerta não pegou tanto quanto as acusações... Bom, seguem aqui alguns exemplos de deliberadas mentiras espalhadas nas redes sociais com o único objetivo de destruir a imagem (e o capital político) da Presidenta Dilma. Tenho certeza que você lembrará deles e, o que é pior, lembrará que conhece alguém que acreditou e reproduziu algumas dessas maluquices:

- Alberto Youssef foi assassinado no dia da eleição
- Dilma tinha cometido suicídio
- Dilma congelou a poupança
- Dilma trouxe haitianos para votar nas eleições
- Se Dilma fosse eleita, dólar custaria R$ 6 e o litro da gasolina R$ 8,00.
- A filha de Dilma era dona de mais de 20 empresas; e
- Dilma havia adulterado as urnas eletrônicas

Não sou pesquisador, nem sei se alguma pesquisa conseguirá medir o impacto desse modus operandi no resultado final das eleições em questão. Mas o fato é que muito se falou sobre diversos aspectos da vitória de Trump e pouco se condenou a prática adotada pela sua campanha.

Vencer estimulando a cultura do ódio e do preconceito não representa apenas um rebaixamento do nível político da disputa, como alguns tentam minimizar. Significa atacar frontalmente dignidade da pessoa, os Direitos Humanos e Direitos Civis. É, ao fim e ao cabo, um crime contra a humanidade que cria ambiente e gera como consequência estados de involução na nossa caminhada civilizatória. Não comentar isso é impedir sua pública condenação. Insisto, está na hora de falarmos sobre o ódio, mentiras e as redes sociais.

http://www.revistaforum.com.br

terça-feira, 8 de novembro de 2016

A ESQUERDA BRASILEIRA E AS ELEIÇÕES NOS EUA, por Fernando Pacheco

A esquerda brasileira em geral tem grandes dificuldades ao se posicionar sobre as eleições americanas. As marcas das relações dos EUA com ditaduras e a grande influência política que esse país exerceu e exerce sobre a América Latina contribuem para tornar essa decisão ainda mais complicada. Na disputa de hoje, vejo duas posições surgindo entre os nossos com as quais discordo.

A primeira é o alheamento e a descrença, de dizer que os dois candidatos representam o mesmo tipo de pensamento conservador e que tanto faz, ou mais que isso, que nós no Brasil não devíamos nos ocupar tanto disso.

A segunda, cuja maior expressão talvez esteja nas posições de Zizek, Assange e Greenwald, sustenta que Trump poderia desorganizar o establishment por dentro e precipitar uma crise maior que reduziria o poder dos americanos e de suas corporações no mundo, ou ainda que em comparação com o histórico de Hillary, os EUA teriam um papel de menor intervencionismo e posições menos globalizantes, por assim dizer.

Discordo frontalmente dessas duas posições, pelas cinco razões que apresento aqui:

1. Os EUA ainda são importantes no mundo em múltiplas dimensões da presença dos processos americanos nas dinâmicas nacionais. Isso vale para a economia, o comércio, o poder militar, a cultura e as dinâmicas sociais, em todos esses campos, é possível delimitar áreas de influência e relações de impacto diretas entre o que acontece lá e o que se passa no resto do mundo.

2. A ascensão de Trump não significaria a desorganização do sistema por dentro, mas mais um movimento, brusco, de tomada de poder pelos segmentos proto-fascistas da direita mundial. Essa aposta que o caos levaria a um cenário pré-revolucionário de decadência do capitalismo pelo centro é ingênua e perigosa. Por mais que não tenha o apoio do Comitê Nacional Republicano, Trump apenas colocou US$ 66 milhões de sua fortuna pessoal na campanha que deve ultrapassar US$ 1 bilhão. O resto dos recursos vem de Comitês de Arrecadação inchados de recursos dos grandes financiadores de campanha que o terão em rédea curta, e não me parece que esses financiadores permitirão a construção de um cenário pré-revolucionário. Não que Clinton não tenha os mesmos apoios, mas é certeza que Trump não representa a ruptura sistêmica, a ruptura dele é apresentar uma face agressiva e radicalizada de um conservadorismo que vem sendo alimentada desde a criação do Tea Party.

3. A eleição de Hillary, por outro lado, pode não representar ruptura, mas é sem dúvida um freio eficaz para parte substancial da agenda conservadora, especialmente em relação aos direitos políticos e sociais. De saída significaria que a indicação de um juiz para substituir o conservador e agora defunto Antonin Scalia na Suprema corte estaria condicionada por posições sobre questões que são caras para a esquerda ocidental, como interrupção voluntária da gravidez, direito das mulheres, encarceramento em massa, guerra às drogas, entre outros. Não quer dizer mudança da água pro vinho, mas o cenário mais possível com Clinton é de que pelo menos não haja retrocesso, Trump já se comprometeu a fazer exatamente oposto. Isso é algo que tem direta relação com o Brasil, que vive uma ascensão conservadora, o enfraquecimento da agenda conservadora no centro, deixa a nossa direita em descompasso com os avanços mundiais. Uma reafirmação do direito ao corpo das mulheres nos EUA reforça a sensação geral, e não só da esquerda, de que nosso congresso promove ideias medievais. A legalização do uso recreativo da maconha em expansão nos territórios dos EUA transforma a foto do nosso ministro de justiça destruindo um pé de maconha em uma charge cada vez mais risível (quer dizer, eu tenho a certeza de que daqui a 20 anos essa foto vai parecer ridícula para a maioria dos brasileiros, mas o processo americano pode reduzir esse prazo pra 10 ou 5 anos). Ainda, é possível dizer que a continuidade dos democratas pode ser um freio ao movimento de inchaço do aparato de repressão e segurança pública, e a posição do FBI sobre Clinton na última semana mostra claramente que esta não representa os interesses do pessoal “da lei”.

4. Tenho certeza de que o histórico de Hillary em algumas questões é um dos fatores que leva muitos a não acreditar que ela possa ser uma boa notícia para esquerda. No entanto, é preciso ver em perspectiva o processo das primárias e de que maneira isso impactou o discurso e a agenda dos democratas na eleição. O fato de os jovens millenials serem uma força em ascensão e progressista no seio do partido democrata levou Clinton a assumir parte da agenda desse segmento, recuando em suas posições históricas, e nisso sobram exemplos. No traço que mais nos afeta, o intervencionismo internacional, Hillary praticamente passou a campanha inteira se desculpando pelos erros cometidos na Síria e na Líbia. Na área do comércio, é possível dizer o mesmo, depois de dizer que o Tratado Transpacífico era o “padrão ouro” dos acordos internacionais de comércio, a candidata democrata voltou atrás e já disse textualmente que os Estados Unidos só assinarão se as condições para os trabalhadores americanos forem mais favoráveis (como isso afeta as condições para investidores na Ásia e América Latina, ouso dizer que esse acordo dificilmente verá a luz do dia até 2020, se ele se concretizar). Um último assunto é relacionado a um tema diretamente ligado à esquerda, que é a equidade e justiça tributária. O sucesso de Bernie Sanders nos primeiros momentos das primárias obrigou Hillary a defender mais impostos para os mais ricos. Se ela conseguir implantar isso, François Hollande não estará mais tão sozinho nessa conversa, e isso alimenta o debate mundial sobre o tema, e pode (aqui assumo que exagero na esperança) desinterditar o tema no Brasil.

5. Para o Brasil, especificamente, há uma armadilha de percepção. Hoje o Kennedy Alencar escreveu um texto dizendo que o Governo Temer torce por Hillary. Há uma mistura de coisas aí, de um lado a relação histórica da família Clinton com FHC e por extensão com os tucanos, de outro o interesse do governo em que a orientação do governo americano seja a expansão do comércio internacional e a internacionalização da economia, o que representaria oportunidades de crescimento para o Brasil. Mas a convergência desses dois interesses pode ser apenas conjuntural, pois há contradições subjacentes entre dois segmentos. É público que os tucanos desejam maior proximidade com os americanos, acordos comerciais de ampla abertura, e vendas de ativos. Qual acordo? Absolutamente qualquer acordo, a elaboração dos tucanos é ter essa aliança como um fim, as outras políticas são apenas atalhos. Mas não acho que isso seja válido para todo o governo, principalmente na agenda econômica e social. Um acordo de ampla abertura poderia significar o fim de qualquer política de refresco fiscal para a indústria nacional. Primeiro porque isso é pré-requisito dos acordos comerciais modernos, países liberam cotas e tarifas, mas proíbem “ajudinha” ao empresariado nacional, pra igualar as “condições de competitividade”. Segundo, porque a inclinação e o horizonte de possibilidades de política fiscal do Brasil são inclinados a não abrir mão de receita e limitados pela produção de déficit (como a PEC 55 não fala de receita, só de despesa, qualquer medida de renúncia de receita ampliaria o déficit). Então, se for o caso de nosso governo assinar um tratado comercial liberando tarifas de importação, o Ministério da Fazenda seria forçado a rever subsídios concedidos aqui no Brasil de um jeito ou de outro, mesmo que isso não esteja previsto no acordo. Eles podem até dizer que Papai Noel vai chegar e que os investidores americanos vão inundar o Brasil de dinheiro se houver mais abertura, mas as pernas dessa mentira são curtíssimas. Isto tudo dito, acho que não é correto apostar em Trump só porque o Governo Temer não gosta dele. É uma lógica infantil de que o inimigo do meu inimigo é meu amigo, o que não é válido nesse caso. Nosso governo vai enfrentar sérios problemas internacionais, especialmente porque tem desafios grandes e planos frágeis que dependem substancialmente de uma esperança que não tem amparo na realidade.

Por esses motivos, acredito sim que devemos acompanhar atentamente o que acontece em Washington hoje e nos próximos dias e que com certeza não devemos torcer pelo proto-fascista Donald Trump. Como considero que a indiferença não é uma posição política muito favorável para a esquerda, acredito que um nível de torcida de baixo entusiasmos pelos democratas é sim um posicionamento válido.


Fernando Pacheco, 30, é economista e foi assessor internacional da Secretaria Nacional de Juventude, assessor da Casa Civil do Governo da Bahia e coordenador de relações internacionais da Juventude do PT.


sexta-feira, 4 de novembro de 2016

MST: Polícia invade ENFF sem mandado




Na manhã desta sexta-feira (04), cerca de 10 viaturas da polícia civil e militar invadiram a Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF) em Guararema, São Paulo.

De acordo os relatos, os policiais chegaram por volta das 09h25, pularam o portão da Escola e a janela da recepção e entraram atirando em direção às pessoas que se encontravam na escola. Os estilhaços de balas recolhidos comprovam que nenhuma delas são de borracha e sim letais.

Neste momento, a polícia está em frente à ENFF. Diante da ação de advogados, os policiais recuaram. A invasão na Escola ocorreu sem mandado judicial, o que é ilegal.

O MST repudia a ação da polícia de São Paulo e exige que o governo e as instituições competentes tomem as medidas cabíveis nesse processo. Somos um movimento que luta pela democratização do acesso a terra no país e a ação descabida da polícia fere direitos constitucionais e democráticos.

A operação em SP decorre de ações deflagradas no estado do Paraná e Mato Grosso do Sul. A Polícia Civil executa mandados de prisão contra militantes do MST, reeditando a tese de que movimentos sociais são organizações criminosas, já repudiado por diversas organizações de Direitos Humanos e até mesmo por sentenças do STJ.

quinta-feira, 3 de novembro de 2016

QUESTÃO DE BOM SENSO (leia até o fim)



As acusações contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva têm como característica comum o uso “abusivo e frívolo” do Direito para destruir sua imagem. A prática, conhecida como lawfare, é um dos argumentos usados pela defesa de Lula.

Mas vale a pena se perguntar: há perseguição mesmo? Estão destruindo a imagem de Lula? Existe uma campanha de transformar tudo e qualquer coisa em denúncia contra ele e, assim, desconstruir sua reputação?

Tenho vários amigos que acham que antes de denunciar a perseguição da qual é vítima, Lula deveria responder às acusações que estão circulando na mídia. Segundo essa lógica, em vez de ir à ONU denunciar os abusos que sofre, o ex-presidente deveria, ponto a ponto, rebater as supostas incriminações.

A título de exemplo, vou listar algumas aqui:

  • Lula deveria responder porque o Ministério Público Federal (MPF), por meio da Procuradoria da República na 1ª Região, o denunciou por uso indevido de dinheiro público - crime de peculato, cuja pena varia de dois a 12 anos de prisão em caso de condenação.
  • Lula deveria explicar como, em quatro anos de seu primeiro mandato como chefe do Executivo, seu patrimônio dobrou de tamanho, saltando de 13,3 para 27,8 milhões de reais.
  • Lula deveria esclarecer suas ótimas relações com a Braskem, subsidiária da Odebrecht, e porque a empresa investiu, somente em 2015, R$ 8 milhões em empresas de sua família; e por que a operação foi conduzida por Hilberto Silva, preso pela Lava-Jato.
  • Por falar em Lava-Jato, Lula deveria elucidar por que planilhas apreendidas na residência do ex-presidente de Infraestrutura da Odebrecht Benedicto Junior indicavam repasses financeiros para ele. 

Você também concorda que antes denunciar suposto abuso, Lula deveria responder a essas acusações? Você também acha que se ele não devesse nada essas coisas não aconteceriam? Você acha que onde há fumaça, há fogo?

Tenho más notícias para você.

É tão óbvia a campanha de destruição de Lula, é tão claro o propósito de destruição da sua imagem, é tão forte e ininterrupta essa empreitada, que toda e qualquer denúncia é aceita como verdadeira contra Lula. Acusam-no de tudo e a toda hora, de modo que qualquer insinuação, por mais inverídica que seja, ganha ares de realidade; qualquer suposta revelação, por mais mentirosa que seja, parece verdadeira aos olhos do público.

E a prova disso está aqui: TODAS AS ACUSAÇÕES ACIMA CITADAS SÃO CONTRA ACM NETO, e não Lula. E o fato de você não perceber isso e achar que eram, ou poderiam ser, contra Lula, é prova inequívoca do uso abusivo do Direito para destruir sua imagem.

É uma questão de bom senso. Ou não?

quarta-feira, 2 de novembro de 2016

A QUEM INTERESSA UM PT DE VOLTA ÀS SUAS ORIGENS? Por Luciano Rezende

Sofrendo intenso bombardeio midiático e feroz ataque dos conservadores de todos os matizes – impulsionado à milésima potência com o advento das redes sociais – o Partido dos Trabalhadores (PT) foi para as cordas. E mesmo segurando-se para não cair, esperando o soar do gongo, continua recebendo pancadas de todos os lados, inclusive de sua própria “equipe”.

Um dia após a divulgação dos resultados da última eleição, em que o PT perdeu seis de cada dez votos em relação a 2012, ganhou força uma cobrança desmesurada para que o partido faça uma autocrítica pública sobre sua conduta nos últimos anos, reconhecendo seus desvios e assumindo sua culpa por quase beijar a lona.

Essa cobrança partiu e parte de todos os setores. Desde seus inimigos mais ferinos que se comprazem de alegria em compartilhar desabafos dos chamados “petistas históricos” que abandonaram a sigla, até mesmo de importantes quadros políticos petistas, como Raul Pont e Tarso Genro. Dos primeiros é compreensível tal conduta, mas dos segundos só podemos lamentar.

Não sou petista, mas como todo brasileiro que participa da política e dos movimentos sociais, conheço o básico da história do PT. Mais que isso, sou testemunha ocular da enorme evolução desse partido, sobretudo a partir do final dos anos de 1990.

Aqueles que clamam pelo retorno do PT às suas origens e não viveram aquele período, deveriam estudar um pouco mais sobre como atuava e o que defendiam boa parte dos chamados petistas históricos. Mas para aqueles que, como Raul Pont e Tarso Genro, sofreram na pele o sectarismo de seus antigos e “históricos” colegas de partido, cujo Orçamento Participativo era um fim em si mesmo, não serão os livros que conseguirão demonstrar o equívoco da volta ao passado.

E aqui não me refiro apenas aos mais “notáveis” como Hélio Bicudo (aquele mesmo que foi um dos mais importantes porta-vozes da direita no Golpe de 2016), Cristovam Buarque, Marina Silva, Heloisa Helena, Plínio de Arruda Sampaio, Marta Suplicy, entre tantos outros. Refiro-me a todas aquelas tendências trotskistas ou esquerdistas, das quais saíram da sigla para fundarem o PSTU e o Psol, por exemplo.

“Petistas históricos” que concebiam a organização partidária mais como um tipo de seita religiosa do que propriamente um partido político para intervir em um sistema eleitoral tipicamente burguês.

Tivesse essa turma permanecido na estrutura interna do PT, sequer teríamos elegido Lula presidente e muito menos realizado a imensa obra política de elevar o nível de vida do povo brasileiro em todos os patamares nesses últimos treze anos.

O PT de hoje apanha justamente pelos seus acertos e fundamentalmente por ter compreendido a importância de ser amplo. De entender a centralidade de se abandonar o discurso estreito de quem só falava para dentro e passar a dialogar com amplos setores da sociedade progressista, nacionalista e democrática.

João Amazonas, presidente histórico do PCdoB, era um dos que denunciava o chamado “entrismo” - recomendado nos anos 1930 por Leon Trotsky aos seus seguidores, e que castigava o PT. O entrismo consistia-se nos trotskistas “introduzirem-se sorrateiramente em partidos e organizações de esquerda com o fito de aí realizarem o seu trabalho sectário, divisionista, contra-revolucionário”.

De fato, na sua origem, a despeito dos “setores sadios, sindicalistas sinceros, democratas conseqüentes, trabalhadores combativos” que compunham o PT, esse era infestado por grupos que ostentavam as mais variadas denominações antes e depois de ingressarem nas fileiras petistas: Convergência Socialista, Libelu, Alicerce, Centelha, Travessia, Peleia, entre tantas outras correntes que disputavam internamente para transformar o PT em uma seita dogmática.

Se essas correntes políticas tivessem saído vitoriosas, muito provavelmente o PT teria a mesma quantidade de deputados e vereadores que o PSTU tem hoje, ou seja, nenhum. Para ficar no slogan “Contra burguês, vote 16” é melhor abrir mão de participar do jogo eleitoral burguês. Como se diz por aí: “Não quer brincar, não desce para o play”.

Mas autocrítica não é uma brincadeira. Não pode ser evocada como resposta artificial para os eleitores, tal como um jogo de marketing. Tampouco significa um processo de autoflagelação. Autocrítica pode e deve ser feita para exercer a análise crítica de seus grandes feitos e corrigir a rota visando seus objetivos estratégicos.

Certamente muita coisa deve ser ajustada para se avançar. Mas ao contrário do que reivindica uma carta assinada por Antonio Carlos Granado, Antonio Lassance, Geraldo Accioly, Jefferson Goulart, José Machado e Ronaldo Coutinho Garcia, intitulada “Precisamos falar sobre o PT”, não é prudente defender uma “reinvenção” urgente do partido. Se o PT é hoje muito mais caçado é justamente porque se reinventou há alguns anos, ou seja, sofre implacável perseguição de seus adversários muito mais pelos seus acertos do que pelos seus erros.

Obviamente, muita coisa necessita ser corrigida. Mas sem dar cavalo de pau.

Entre tantas críticas feitas pela carta mencionada acima, muitas delas corretas, falta a principal: o hegemonismo petista. O maior partido de esquerda do país e da América Latina deve ser mais aberto às alianças, sobretudo, com seus aliados históricos, visando uma Frente Ampla de resistência ao neoliberalismo.

E Frente Ampla não é Frente de Esquerda. Frente Ampla, com iniciais maiúsculas, deve aglutinar setores inclusive da direita nacionalista que, em alguns momentos táticos, é atraída pelo programa comum de fortalecimento do Estado Nacional e se opõe a escalada do entreguismo. É forçoso reconhecer que o governo Dilma foi muito estreito e dialogava pouco com as demais forças políticas.

Por fim, é fundamental termos a devida cautela para se evitar que o PT se reinvente em uma espécie de Psol. Aí sim, seria o gran finale do teatro golpista de 2016 com a direita aplaudindo de pé.

Um PT saudável é fundamental para toda esquerda que tal como aprendemos na ecologia tem mais chance de sobrevivência atuando em grupo. Ou como nos mostra as várias relações ecológicas harmônicas, intra ou interespecífico: é hora do comensalismo sair de cena e o mutualismo finalmente prevalecer. Caso contrário, seremos vítimas fáceis da predação ou do parasitismo da elite brasileira.


Luciano Resende é professor na Universidade Federal de Viçosa, campus Florestal, e Diretor de Temas Ecológicos e Ambientais da Fundação Maurício Grabois